Por Valéria Prochmann - Jornalista profissional diplomada
Especialista em Administração - Marketing e Propaganda e
Microemprendedora.
Qual o futuro possível para Donald Trump?
Nesta semana, o mundo suspira aliviado. Donald Trump deixa a Casa Branca, lambendo suas feridas: as 400.000 mortes na pandemia, a incompetência na gestão pública, a criminosa invasão do Capitólio que resultou no brutal assassinato de um policial, o banimento das redes sociais e o impeachment em curso. Um término de mandato melancólico e indigno para quem governou com arrogância, insolência, prepotência e soberba a nação mais rica e poderosa do planeta.
Uma saída elegante não combinaria com ele, que deixaria de ser o centro das atenções. Como todo narcisista, prefere chamar atenção sendo “o grande ausente”. O exímio jogador não soube perder nem passar o bastão. Logo ele, que classifica a humanidade em “winners X losers”.
Subiu instigando os piores sentimentos nas pessoas e desrespeitando seus semelhantes, a começar pela forma como depreciou os adversários: Hillary era “nasty woman”, Biden era “sleepy man”. Diante da jovem Greta, faltou-lhe fair play.
Movido a destrutividade, usou o poder para ferir. Até crianças foram apartadas de seus pais e trancafiadas em jaulas. Com sua mesquinhez, retirou os EUA da cooperação internacional e debochou de outras nações. Durante todo o seu mandato, mentiu de forma contumaz a ponto de ter suas contas banidas das redes sociais por violação sistemática das normas.
Vendeu-se como homem da lei e da ordem, mas revelou-se o maior desordeiro de todos ao incitar a depredação do Capitólio. Conspurcou a Bíblia e a Casa Branca. Envergonhou até mesmo o conservadorismo, seus correligionários e membros do seu staff - alguns dos quais renunciaram aos cargos. Um comandante militar pediu desculpas ao povo americano por deixar-se usar indevidamente pelo presidente vigarista.
Seu desdém em relação à pandemia foi um acinte diante da escalada de mortes. Violou medidas sanitárias, fez propaganda de medicação sem respaldo científico, amplificou mentiras.
A resistência não lhe deu trégua. Desde o início do mandato, as nasty women fizeram suas marchas pelas ruas de todo o país, com suas touquinhas lilases, lideradas por Madonna. Depois vieram #MeToo, Stand Up For Science, Protect Trans, I can´t breath, Black Lives Matter, Greta, Jane, The Fearless Girl, The Lincoln Project. Nancy Pelosi - the nastiest woman - rasgou os papéis do discurso do Estado da União enquanto Trump se pronunciava. Feministas, cientistas, ambientalistas, artistas, intelectuais e outros livres pensadores – things were really hummin’!
A principal “proposta” trumpista foi desmoralizada em 2017 quando os professores Ronald Rael (arquiteto) e Virginia San Fratello (designer) instalaram gangorras perpassando o muro na fronteira dos EUA com o México nas quais cidadãos brincavam em ambos os lados. A gangorra é perfeitamente emblemática da política em vários sentidos. Round and round and up and down. “Build the wall around Trump”. Que forma inteligente, criativa, inovadora, pacífica, divertida, ecológica e elegante de manifestação política!
Foto de Rael San Fratello, publicada em Texas Monthly.
Mas quem pôs a pá de cal em Trump foi mesmo o coronavírus, escancarando o despreparo e a incompetência do homem que passou todo o mandato tentando destruir o Obamacare. Com 4% da população mundial e 22% dos casos, os EUA contabilizaram mais baixas na pandemia do que na Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã. A pequenez não permitiu que Trump enxergasse na tragédia a oportunidade para unir e liderar a nação numa forte corrente de empatia, como soube fazer George W. Bush por ocasião do Nine Eleven.
Com a dupla Biden-Harris, o Partido Democrata construiu uma forte aliança, desenvolveu uma campanha eleitoral impecável e obteve uma bela vitória, recordista de votação. Soube não apenas mobilizar suas bases como também conquistar votos neutros e até de adversários políticos tradicionais. Chega ao poder com o propósito declarado de curar as feridas.
O que restará do trumpismo? Com idade avançada, terá Trump fôlego para sobreviver ao aniquilamento político, livrar-se de processos judiciais por seus desatinos, liderar a oposição e ainda disputar a próxima eleição, provavelmente contra Kamala Harris?
Twisting time is here!
댓글