Presidentes que entram em confronto com o Congresso Nacional e o Poder Judiciário sempre representam ameaças à democracia...
Convenhamos, é fácil bater no Congresso Nacional. As pessoas crescem ouvindo falar mal dos políticos, dos conchavos, da corrupção e da vida nababesca. E naturalmente, os políticos têm grande parcela de culpa pela má fama do Poder Legislativo. Mas é fundamental bater, alertando para sua importância. Denunciar suas mazelas, lembrando o seu papel fundamental nas democracias.
Democracias, a propósito, são extremamente imperfeitas. Contudo ainda não inventaram um regime melhor. Políticos, sem dúvida, são seres imperfeitos, tão humanos em suas fraquezas quanto qualquer outra classe. Entretanto, não se apontou uma fórmula eficiente para que a democracia funcione sem os políticos.
Por este motivo, quando um Presidente da República vai às redes sociais, como já fez outras vezes, para pedir a mobilização dos seus apoiadores numa manifestação pública contra o Congresso Nacional, vale ligar todas sirenes, todos sinais de alerta. Afinal, os atos não são gratuitos. As iniciativas não são inconsequentes, têm por trás um objetivo oculto.
Somente um ingênuo não se preocupa quando vê vídeos como o que convoca à manifestação em 15 de março próximo. Nada contra enaltecer a figura do Presidente - se as pessoas realmente acreditam, como diz o vídeo, que temos um Presidente capaz, cristão e incorruptível é direito delas. O problema está em identificar o Poder Legislativo e o Supremo Tribunal Federal como entraves às boas intenções do Presidente.
A preocupação cresce por vários aspectos: a) temos um Presidente sem uma base formal no Congresso Nacional - este fato, por si só, é um desrespeito à democracia, pois conduz as pessoas a pensar que se pode/deve governar prescindindo do Poder Legislativo; b) Bolsonaro não hesita em defender regimes ditatoriais, bem como métodos repressivos das liberdades públicas - a coisa é tão escandalosa que até tortura ele defende sem maiores pudores; c) até onde se sabe, ele está governando com o apoio dos militares. Ora, junte os ingredientes e o que você tem é a pavimentação do caminho para uma ditadura, pontilhada por menosprezo aos direitos e garantias do cidadão, à imprensa, às minorias e a qualquer pensamento diferente.
O clã Bolsonaro já deu todos sinais de suas intenções. Eles vêm testando os limites e as reações do povo desde que assumiram o poder, como que se estivessem ensaiando o passo no abismo. Minhas esperanças estão nas instituições, inclusive no Exército Brasileiro, cujos generais ainda parecem ser fonte de bom senso num governo tresloucado.
Então, a reação é importante. Que 15 de março não tenha nas ruas nada além dos 15 a 20 por cento dos zumbis que acompanham Bolsonaro em todas suas manifestações, os mesmos que riem de suas piadas de mau gosto, que aplaudem suas invectivas contra a imprensa e que receberiam a ditadura com sorriso bovino.
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