Um poema de Manuel Rosa de Almeida
Imagem de Free-Photos por Pixabay
Deitados no petit-pavé
Descobertos os pés sujos
O que, afinal, você vê
Naqueles de cujos
Destinos pouco se dá?
Será que sonham ainda
Será que fazem planos
Ou ainda contam os anos
Da vida que lentamente finda
No vazio que ainda há?
Há os que se renderam
Ao crack e à cachaça
Há os que se perderam
Na eterna trapaça
De memorar o memorado.
Há os que cultuam
O próprio sofrimento
É o destino, murmuram
E o murmúrio é um lamento
Ecoando na alma do desolado.
Será que sob os cabelos duros
Vagam lembranças da criança
Que um dia riu, comeu goiaba
Aninhou-se no colo materno
Tranquila, da vida distraída?
Será que os sonhos puros
Acalentados na bonança
Acabaram assim, como acaba
Tudo que é bom e terno
Toda flor, toda asa abatida?
Pobre mendigo deitado no petit-pavé
Queria ver em ti o menino
Que um dia tua alma revestiu.
Tomar-lhe a mão e dizer: vê!
Alça o voo, ouve o sino
É tudo ilusão, nada existiu…
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