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MOTIVOS E FINS


Não foi às forças humanas que entreguei meu coração.


Imagem de Geminni IA.



O que você chama de desastre, meu amor, eu conheço por renascer. Enquanto pouso meus lábios sobre o delírio da incerteza e aproveito cada segundo de um passado que se esvai, mesmo com esse desespero em mente, eu o faço com a certeza de capturar esses momentos para mim. Ah, meu amor, não pense mal disso tudo, não perca seu tempo criando projeções ruins e cansadas dos nossos melhores sentimentos. Acenei para que viesse, andei de ré a passos largos, sem me importar com o que me encontraria às costas, enquanto observava você dissipar-se como açúcar na água. Não vê o quanto perde ao amarrar-lhe os próprios pulsos?



Beijava sua nuca, de surpresa, enquanto agarrava seus ombros, para lembrá-lo do reflexo bom de saber que se é amado, ao que percebia seu espanto dissimulado e sua calma no espírito, ambos harmônicos num coração cheio de demônios. Não, não queira que eu lhe explique meus motivos, pois não há algum para caçar; não insista em saber quantas colheres de pó de café ponho em meu filtro; não me olhe no espelho com dúvidas impossíveis de serem exprimidas: apenas sinta e entenda o objetivo de estar aqui comigo.



São coisas diferentes, não? De um lado, a doce subserviência misturada às delícias da identidade da mente, do corpo e do espírito, ao mesmo tempo em que se tornam, mais e mais, perfeitamente distintas. De outro, o começo é uma incerteza, por vezes angustiante, em que poucas ideias fazem sentido: nada parece se conectar, senão diante de um esforço combinado e firme. Deste último mundo, muito trouxe para dentro da alma, com clareza e com a mesma inocência do primeiro suspiro, sem muito me importar se o teria em minhas mãos. E você faz parte disso, desse mar muito esverdeado e repleto de vida, e que, contudo, vida esta que só pode ser observada depois das muitas noites tentando encontrar seus olhos no escuro.



Finalmente, por teimosia, sublimei qualquer desconforto numa arma potente de imaginação e arrepios. Vê? O quão marcada uma pessoa precisa ficar para descobrir o caminho de volta à própria essência… Percebe? Nem mesmo seu perfume me deixa receosa, ainda que não me passe indiferente. E são as nuvens que renovam, que fazem minha cabeça rodopiar, pois não foi às forças humanas que entreguei meu coração. Talvez seja esse o meu segredo.

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