Um poema de Manuel Rosa de Almeida sobre as coisas simples da vida.
A sensibilidade gentil da esposa minha
Montou para os pássaros alimentar
Dois comedouros em frente à janela da cozinha.
E as cores ao meu quintal vi voltar.
Não apenas as cores das frutas, mamão
Bananas, laranjas, maçãs
Mas a aquarela dos convidados.
Sabiás sempre vêm primeiro, tão
Duramente dominam as manhãs
Com seu largo peito alaranjado.
Avançam nos mamões e expulsam sem dó
Qualquer outro pretendente a conviva.
Depois a algazarra dos periquitos
Redesenhando da pitangueira o verde só
Comendo elegantes as bananas, cativa
Em pedaços nas patas retidos.
Chegam Bem-te-vis e seu lindo amarelo
São visitantes solitários, arredios
Finalmente, ao fechar da cortina
Exibindo o azul cinza claro mais belo
Cautelosos sanhaços em trios
E multicoloridas saíras pequeninas.
Rolinhas contemplam a festa dos muros
Como se o propósito não entendessem
De tanta alegria e tanta pirueta.
Talvez prefiram alimentos duros
Ou talvez viriam se tivessem
Cores alegres na sua paleta.
A sensibilidade gentil da esposa minha
Montou para os pássaros alimentar
Dois comedouros em frente à janela da cozinha.
E as cores ao meu quintal vi voltar.
Lindo poema!