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Foto do escritorTião Maniqueu

O OVO DA SERPENTE

Chocando, para quem quiser ver...



Imagem de Karsten Paulick por Pixabayo


Não é preciso nenhum exercício de futurologia. Não é preciso profunda perspicácia e capacidade de análise. Basta apreciar os fatos, conhecer um pouco de história e política, para concluir: em 2022 o Brasil precisará desesperadamente de suas instituições. Quem algum dia se perguntou como foi possível uma nação civilizada como a Alemanha prostrar-se diante da selvageria do nazismo conseguirá, analisando as tentativas autoritárias de Bolsonaro, compreender a gênese de toda ditadura. Quando e onde o ovo da serpente começa a ser chocado.


Bolsonaro demitiu o Ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva, e dispensou todo o alto comando das Forças Armadas. Ele mirava no Comandante do Exército, General Edson Leal Pujol, mas, percebendo que os Comandantes da Marinha e da Aeronáutica entregariam seus cargos, afastou a todos. Bolsonaro quer forças armadas cordatas, obedientes, soldados e oficiais alinhados ao seu governo. Pujol já havia demonstrado antes que o exército não seria subserviente a Bolsonaro. Azevedo e Silva assegurava as Forças Armadas em seu papel de instituições de Estado. Por isso foram afastados.


Ao mesmo tempo, o Presidente buscou no Congresso poderes excepcionais, somente conferidos em caso de guerra. A ideia era, a pretexto de enfrentar a pandemia, conferir ao Presidente os poderes de uma Mobilização Nacional. São poderes espantosos de controle de forças policiais e produção, requisição de civis e militares. A proposta foi rechaçada com veemência, mas como se percebe, Bolsonaro está sempre testando os limites da democracia, desde as manifestações contra o STF e o Congresso. Faz ensaios, testa a resistência das instituições, ao mesmo tempo em que planta ideias de autoritarismo entre sua coorte de radicais.


Está claro o intento. O ovo da serpente está sendo chocado. Penso, na verdade, que o golpe já está em curso. Se perder a eleição em 2022 - o que é bem possível, tendo em vista o absoluto fracasso de seu desgoverno - Bolsonaro irá repetir Donald Trump. Não reconhecerá o resultado das urnas, alegando que houve fraudes. Há tempos ele prepara este discurso, lançando dúvidas sobre as urnas eletrônicas. Em seguida, convocará seus fanáticos de extrema-direita às ruas, contando que terá o apoio de grandes parcelas das polícias civis e militares. Ou seja: tentará o golpe.


A mudança no alto comando das três forças busca o que lhe seria definitivo nesta ocasião. A participação ou, ao menos, a conivência das Forças Armadas. Bolsonaro afasta militares corretos e respeitadores da Constituição, para substitui-los por outro sem coluna vertebral. Entre os subservientes encontram-se Braga Neto, Luiz Eduardo Ramos, Pazuello e Heleno. Agora ele quer ter, entre os militares da ativa, generais com almas de soldado no comando das três forças, para que apenas o obedeçam.


Em 2022 a jovem democracia brasileira será definitivamente testada. Para sobreviver, precisará desesperadamente de suas instituições: Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal, Imprensa Livre, Ordem dos Advogados do Brasil, forças de segurança e... Forças Armadas.





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