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Foto do escritorTião Maniqueu

OBSCURANTISMO & OPORTUNISMO

Em sua busca de um novo mandato, Bolsonaro está disposto a tudo, até sacrificar a população...





Em outra encarnação, Bolsonaro provavelmente participou da Revolta da Vacina. Posso até vê-lo, em meio à multidão, vituperando contra Oswaldo Cruz, gritando palavras de ordem contra o governo Rodrigues Alves. Para quem não sabe, a Revolta da Vacina foi uma insurreição popular ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro - então a sede do governo federal - contra a obrigatoriedade da população vacinar-se contra a varíola. Durou uma semana, com muito quebra-quebra e vandalismo, e resultou na decretação de estado de sítio e na suspensão da obrigatoriedade da vacina.


A Revolta da Vacina era uma comprovação das poucas luzes da época, fomentada também por militares florianistas que tentavam um golpe. O oportunismo político é patologia que transcende o tempo, mas as poucas luzes deveriam ter ficado em 1904. Por incrível que pareça, quase 120 anos depois, o mesmo obscurantismo cresce em parcela da nossa população e tem no Presidente da República um arauto.


Bolsonaro afirmou ontem que meu Ministro da Saúde já disse que esta vacina não será obrigatória e ponto final. É preciso perguntar: quanto de obscurantismo e quanto de oportunismo político há nessa declaração presidencial?


Tudo bem, sabemos que Bolsonaro é um sujeito tosco, de poucas luzes. Em toda crise da pandemia, que assola o Brasil desde março, o Presidente portou-se como um obscurantista, um negacionista. Basta lembrar: já minimizou a ameaça ( chamando-a de gripezinha ); já afirmou que isolamento social é para fracos; já afastou um Ministro da Saúde que tentava fazer um necessário trabalho de coordenação nacional; já fez propaganda de medicamentos reconhecidamente ineficazes; já deu mau exemplo à população inúmeras vezes, seja causando aglomerações, seja não usando máscara. Portanto, está claro, Bolsonaro é um representante destas poucas luzes.


Mas além disso, ele adiciona um fator de maior baixeza, o oportunismo político. Tal como fez com o auxílio emergencial - em que fez questão de centralizar a distribuição de recursos e assumir a paternidade da verba para colher ganhos eleitorais - também aqui age por puro oportunismo. Ele não pode aceitar que outro político apresente a solução de um vacina antes do governo federal. Este político é, no caso, o Governador de São Paulo, João Doria. Outros governadores também movimentaram-se em torno de outras vacinas, mas o grande temor de Bolsonaro é que a vacina chinesa apareça e seja eficiente. Ele não pode aceitar que Doria, um potencial candidato ao Planalto, surja como o político que apresenta a solução para o maior problema que o Brasil enfrenta em décadas.


Assim, opta pelo caminho mais baixo e fácil. A vacina não será obrigatória. Bolsonaro não recomenda a vacina. E se a população não for vacinada em massa, talvez a vacina falhe. Portanto, Bolsonaro está disposto a atos radicais naquilo que já é uma prévia da campanha presidencial. Sabotar a vacina, ainda que isso possa resultar na morte de outros milhares de brasileiros; não recomendar a vacina, ainda que seja uma postura contraditória à retomada da economia, seu principal mantra na pandemia; negar a obrigatoriedade da vacina, mesmo que isto seja prejudicial ao país. Até que o atrasado governo federal possa apresentar sua própria vacina e salvar a pátria.


Nem em 1904, nem em outra época qualquer… jamais este país contemplou tanto obscurantismo e tanto oportunismo político. Tudo centralizado no poder, na soturna figura do Presidente da República.



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