POLISSONOGRAFIA
- Manuel Rosa de Almeida

- 3 de ago.
- 3 min de leitura
Uma agradável noite de sono?

Imagem de cinema e pixels
Se você nunca fez uma polissonografia, deixe-me dividir a experiência com você. Primeiro quesito: você deve ser um cara que ronca muito, daqueles roncadores renitentes e perturbadores cuja esposa é santa, surda ou já decidiu dormir em outro quarto há muito tempo. Não conheço meu ronco, naturalmente, mas pessoas que já ouviram o classificam entre o javali ferido e o porco esganiçado.
A polissonografia é normalmente indicada para quem tem apneia do sono, um problema que pode ter múltiplas causas, mas que perturba o sono reparador, porque a vítima do mal tem a respiração ocasionalmente interrompida, de forma que ela acorda frequentemente em meio a um rosnado desesperado de quem está se afogando. No meu caso, o exame também é indicado porque a apneia do sono pode ser um fator de risco a mais para quem corre risco de AVC - o malfadado Acidente Vascular Cerebral.
O exame em si é bastante simples: você precisa passar uma agradável noite numa clínica, sendo monitorado. O problema é o tamanho da monitoração. Na minha humilde pessoa conectaram por volta de vinte fios. Alguns fios eram presos às pernas, possivelmente para monitorar movimentos dos membros inferiores. Se eu sonhasse com meus dias de glórias futebolísticas seria desastre certo. Outros fios conectavam-se com o tórax, firmemente atado por uma tira sensora. Muitos fios na cabeça, sondando o cérebro, grudados ao couro cabeludo por uma gosma difícil de limpar posteriormente. Outros fios no maxilar para investigar bruxismo. Acrescente uma canícula nasal e seus tubos. E finalmente um oxímetro conectado ao indicador da mão esquerda. Ou seja: você se torna um personagem Fritz Lang, um ciborg pavoroso ou robô assustador.
Antes de desligar a luz e desejar uma boa noite de sono ( algo impossível atado a tantos cabos e tubos ), a enfermeira indica um botão para ser usado caso você precise ir ao banheiro.
-- Costumo ir ao banheiro de duas a três vezes por noite -- adverti.
-- Sem problemas. Apenas aperte o botão e espere eu chegar,
Imaginei que a enfermeira viria me desconectar daquela parafernália, mas não. Você precisa ir ao banheiro conduzindo tudo aquilo e mais uma caixinha onde tudo se encaixava. Ela me advertiu duas vezes sobre isso e contou o caso de um paciente que saiu pelos corredores puxando fios, caixinha e tudo. Uma confusão que ela deixou claro não querer enfrentar novamente.
Fui ao banheiro apenas uma vez e, espantosamente, não foi tão difícil. Perturbei a enfermaria uma segunda vez, contudo, porque algum movimento noturno inadvertido me fez derrubar a dita caixinha. Aí já foi outra enfermeira, que tratou aquilo como um incidente bastante comum.
Nestas condições, claro, não dormi bem. Ao que me disseram, isso não importa. Importante é monitorar o sono e as crises de apneia, durma você bem ou não. O resultado pode demorar vinte dias. Aparentemente a tarefa de analisar os dados de tantos sensores toma algum tempo. A espera, contudo, vem com a promessa de noites de sono bem mais reparadoras, possivelmente usando uma máscara para o resto da vida. Esta máscara fica conectada ao CPAP que lhe entrega ar pressurizado por meio do aparelho ( Fritz Lang, noch mal ). Quem já usa afirma que não pode mais se imaginar sem o equipamento, tal a melhoria que seu sono apresentou.
Estou pagando pra ver.










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