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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

QUANDO TRUMP VIRA LUCIANO HUCK

O pronunciamento de Donald Trump no Discurso sobre o Estado da Nação foi patética manifestação de populismo, transformando o Congresso americano num programa de auditório.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

O tradicional Discurso sobre o Estado da Nação, feito anualmente pelo Presidente dos EUA frente ao Congresso, foi tudo - deselegância, reafirmação de propostas reacionárias, utilização do sofrimento alheio, exploração do emocional do cidadão americano - menos uma prestação concreta de contas do governo Trump.


De início, o Presidente norte-americano gastou longos momentos exaltando os dados positivos de seu governo. Surfou em números. Claro, não deu qualquer crédito ao governo Obama e fez dos dados numéricos o que bem quis. Trump parece plenamente consciente de que, se a estatística é uma ciência séria, está sujeita aos malabarismos da propaganda. Um sujeito de má fé dirá que uma pessoa com os pés numa bacia de gelo e a cabeça enfiada num forno apresenta uma temperatura média bastante agradável. Todo governo populista fez o mesmo: de Lula a Putin, de Hitler a Maduro.


Em seguida, para pontuar os aspectos que reputa como mais relevantes de suas políticas interna/externa, não teve a menor vergonha de utilizar o sofrimento das pessoas para faturar politicamente. Se as vítimas de tanto sofrimento não conseguem perceber o quanto são manipuladas, como sua dor vira moeda nas mãos de um governante que busca apenas autopromoção, paciência. Mas foi patético ver crianças negras em busca de escola, mães que superaram um parto prematuro, parentes de pessoas assassinadas por latinos, familiares de militares que morreram no Iraque ou em outros cenários da atuação intervencionista militar, desfilarem suas penas e suas lágrimas diante do show promovido por Trump.


O momento máximo veio com a família de um sargento que - se não me equivoco - serve no Afeganistão. Esposa e filhos ouvem tristes a ladainha de Trump, enaltecendo o sacrifício do esposo/pai em plagas distantes. Aí Trump diz: basta de tanto sacrifício! Resolvemos trazê-lo de volta! Entra o sargento em vistoso uniforme, “surpreendendo” a todos. Lágrimas, palmas, lágrimas… Luciano Huck, se estava assistindo, deve ter pensado em processar o americano por plagiar alguns quadros do seu Caldeirão.


A sociedade americana apresenta muitos pontos questionáveis. Entretanto, podemos admirar a maturidade da democracia americana onde, num plenário dividido entre o aplauso ufanista dos republicanos e o silêncio constrangido dos democratas, houve muitas mostras de civilidade. Unanimidade apenas no aplauso a Juan Guaidó, ele também vergonhosamente usado. Por isso é duro assistir uma figura triste transformar o palco da democracia num espetáculo de terceira…


Ao final, o país está tão dividido quanto as páginas do discurso de Trump, que Nancy Pelosi rasgou diante das câmaras, espécie de troco mal educado à descortesia de Trump por negar-lhe a mão no início da cerimônia. América! América! God mend thine every flaw...

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