O que foi, realmente, o governo de Jair Bolsonaro?
Imagem de: www.slon.pics / Freepik
Dizem que o brasileiro tem memória curta. Agora, na perspectiva de uma eleição presidencial, a falta de memória é problema sério que traz graves consequências. Para refrescar lembranças do que foi a gestão de Jair Bolsonaro, passamos a republicar - todo domingo - comentários sobre este governo.
Assim, você poderá avaliar toda a trajetória deste governo ( ou desgoverno ). Quando outubro chegar, com os fatos recolocados, você pode formar seu julgamento. E se quiser reconduzir Jair Bolsonaro ao poder, é decisão e responsabilidade sua.
Vejam que sintomático: Em 18.05.2020 tratávamos das manifestações antidemocráticas em frente ao Palácio do Planalto, manifestações que permanecem até hoje, cada vez com mais força. É ou não é para se preocupar?
DETALHES SIGNIFICATIVOS - Texto originalmente publicado em 18.05.20
Na mesmice da repetida manifestação de um punhado de radicais, alguns detalhes são significativos...
Já está ficando chato, todo fim-de-semana, a repetição da mesma manifestação frente ao Palácio do Planalto. A rigor, não mereceria comentários, até porque o número de participantes mostra-se inexpressivo. Contudo, detalhes da última manifestação - alguns esclarecedores, outros preocupantes - obrigam-me a tratar do mesmo assunto, com o perdão de meus poucos leitores.
O detalhe esclarecedor está no sumiço das faixas mais agressivas pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. Bolsonaro vendeu o fato como um ponto positivo a seu favor, na linha do estão vendo, não estou participando de nenhuma manifestação antidemocrática. Mas para quem gosta de analisar os fatos friamente e não tem preguiça de exercitar seus neurônios, resta claro que isso pega ainda pior para o Presidente da República.
Pega mal por dois aspectos: a) se o sumiço das faixas deixa o Presidente um pouco mais confortável em participar das manifestações, por outro lado demonstra que as manifestações não são espontâneas; ao contrário, são orquestradas por alguém muito próximo a Bolsonaro, já que atendem aos seus desejos; b) se o Presidente mesmo reconhece que agora não estamos atentando contra a democracia, significa afirmar que nas manifestações anteriores houve agressão à democracia e, ainda assim, Bolsonaro respaldou os eventos.
Está claro que o verniz caiu mal sobre o material. Tirando as implicações acima, as manifestações permanecem antidemocráticas, pois ainda propõe medidas contra o STF e o parlamento. As faixas estavam lá, para quem quisesse ver. Outras faixas, nesta ridícula dissimulação, atingiram um nível patético. Cito duas: CLOROQUINA JÁ! E REGIME DEMOCRÁTICO MILITAR JÁ. A primeira não faz mais do que ecoar a panaceia vendida por Bolsonaro, que já lhe custou dois ministros da Saúde. A segunda denuncia a pouca inteligência de quem a encomendou, afinal não consigo sequer imaginar a quimera que a frase evoca. O que seria, afinal, um regime democrático militar?
A nota preocupante está na participação dos ministros militares. Os generais Heleno, Ramos e Bento Albuquerque deveriam ter vergonha da sua participação em manifestação desta natureza. As forças armadas têm reiteradamente se pronunciado pela defesa do Estado de Direito. Então, porque os ministros militares participam de manifestação que aponta em sentido contrário? O exército nacional, que foi, em suas origens, fortemente inspirado pelo positivismo e, portanto, um defensor da racionalidade da ciência, vê-se apequenado pela participação de seus ministros em um evento que postula CLOROQUINA JÁ!
Fato é que, pressionado por todos os lados, com múltiplas acusações sendo investigadas, com o conteúdo do vídeo-bomba em vias de ser divulgado, com as denúncias de um colaborador íntimo que lança mais sombras sobre o caso Queiroz e sobre as intervenções da família na Polícia Federal, com o governo vendendo órgãos e fundos para ganhar apoio do centrão, Bolsonaro vem se perdendo numa trajetória alucinada que vai conduzindo ao desastre. Espera-se que em sua rota de destruição, não arraste a nação consigo...
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