O Grande Circo Americano fecha as portas. Próximo espetáculo, daqui a quatro anos. Se houver circo.
Imagem de Gazeta do Povo.
A vitória de Trump foi incontestável. Fez barba, cabelo e bigode, ou seja, levou a Câmara dos Deputados e o Senado, além da Presidência. Já na noite das eleições a vitória estava assegurada. Não foi necessário arrombar a porta, como seu exército de advogados e políticos (além da multidão) se preparava para fazer, como na última eleição, que resultou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Os jornais de quarta-feira, dia 6 de novembro, já rodavam com as análises dos comentaristas especulando como será o futuro governo Trump.
Políticos do mundo inteiro se alvoroçaram com a perspectiva dos terremotos que virão nos próximos anos, com o Império retomando sua política isolacionista, America First. Será esta a primeira das consequências da volta de Trump, e muita gente ao redor do mundo rangerá os dentes e sofrerá na carne com suas políticas. O consenso bipartidário que conduziu a política do Império Americano desde a Segunda Guerra Mundial, ativamente intervencionista, com o objetivo inicial de contenção do Império Soviético e, após a sua queda, de manter a influência americana no mundo, terá no segundo mandato de Trump sua pá de cal. America First foi a nota dominante na política americana durante muitos anos, e somente o ataque japonês a Pearl Harbour permitiu a Franklin Roosevelt entrar na guerra.
Mas Trump é reconhecidamente um homem instável (essa não é uma imagem de seus inimigos. Todos os que com ele trabalharam na Casa Branca dizem isso), e uma política coerente não necessariamente virá, apesar dos ideólogos que o cercam. Os radicais conservadores que o veem como instrumento deveriam se lembrar que os empresários alemães e os militares prussianos que apoiaram Hitler deram com os burros n’água. Não é possível controlar um fenômeno da natureza como Trump.
Trump irá até o fim, como previsto no Projeto 2025, da Heritage Foundation? Trump já se dissociou do Projeto 2025, em palavras e mesmo no seu programa de campanha. Naturalmente, trata-se de um trabalho doutrinário (mas seus redatores participaram no governo anterior em postos-chave) e, portanto, amplíssimo. De fato, trata-se de uma proposta de revolução conservadora radical. E uma revolução não se faz nos marcos de um regime constitucional, mesmo que você tenha maioria na Câmara, no Senado e na Suprema Corte. Trump seguirá seus instintos, como sempre fez. Mas o futuro a Deus pertence.
O Grande Circo Americano fechou as portas. O público preferiu o maior dos impostores, lembrando que la donna é mobile. Foi um grande espetáculo, recheado de emoções. Como todo grande filme, teve atentados, desistências na última hora, cenas de horror, comédia, drama. Uma grande trilha sonora animou a plateia. Canções clássicas e novas de Hollywood e da Broadway tornaram o espetáculo mais vibrante e festivo. Quem assistiu, gostou. Assistiria de novo? Com certeza. Lá estaremos, quando o circo reabrir as portas, daqui a quatro anos. Se houver um novo espetáculo.
E os gurus da mídia? O grande perdedor: Alan Lichtman e suas treze perguntas. Mas ele é um homem muito culto e persuasivo, e provavelmente conseguirá convencer os fãs da justeza de suas previsões (mesmo que tenha errado); nós o seguiremos no próximo espetáculo. Os sites de apostas estavam certos. Parabéns a Polymarket. Mas PredicIt deu com os burros n’água. As empresas de pesquisa acertaram. Dentro da margem de erro. Digo sem ironia, pois todos diziam a mesma coisa: a eleição estava polarizada ao extremo, e o vencedor ganharia na margem, podendo dar empate (270 a 268), ou um deles vencer com mais de 300 votos, a depender de como se moveria a pequena parte de eleitores indecisos. Estes se moveram para Trump, que arrastou as fichas. Ao vencedor, as batatas.
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