Um poema de Manuel Rosa de Almeida sobre absolutos.
Há duas palavras em que não acredito
São elas tudo e nada
De tal forma definitivas
Não cabem na dimensão
Deste mundinho finito.
Na palavra tudo, enviesada,
Está a ideia de exceção
O que faz do tudo um quase.
Na palavra nada, esquiva,
A ideia de um até agora,
Que faz do nada uma fase
A ser ultrapassada.
Tudo na vida passa,
Nada é para sempre
A mesma ideia compartilhada
Pelas palavras nada e tudo.
É isso que me apavora
Tudo e nada, lembre
São o mesmo do lado avesso,
Saltando da caixa de pandora.
Você não faz nada direito
Tudo que diz é bobagem
Era melhor ficar mudo
Melhor calar a voz no peito
Pois tudo e nada são miragens
Na grande miragem que atravesso.
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