UM PAPA BRASILEIRO?
- Manuel Rosa de Almeida
- 4 de mai.
- 3 min de leitura
A possibilidade é mínima.

Imagem de UOL Notícias.
Ontem, pela primeira vez, alguém buzinou no meu ouvido a notícia de que é grande a possibilidade de um brasileiro ser eleito papa. Como todos sabem, no próximo dia 7 inicia-se o conclave que vai escolher o sucessor do Papa Francisco. Ao que tudo indica será uma disputa acirrada, confrontando-se conservadores e reformadores. Pra quem não sabe, o Cardeal Bergoglio, argentino que se tornou papa, foi um reformador. Em sua pátria há quem apontasse o dedo pra ele dizendo que foi um colaborador da ditadura. Bem, é certo que ele não confrontou diretamente os generais, mas também é certo que há muitas maneiras de se enfrentar uma ditadura e a luta de peito aberto é a menos inteligente delas.
Sim, o Papa Francisco foi um reformador. Enfrentou a Cúria e só este ato corajoso vale uma reforma. Afastou extremistas, enfrentou escândalos, reformou a Cúria descentralizando-a. Tudo isso é visto como preparar o terreno para seu sucessor. Em outro campo, buscou abrir espaço para as mulheres na Igreja Católica, um tabu realmente difícil de vencer. Nunca as mulheres ocuparam tantos cargos - e cargos relevantes - na administração do Vaticano. Relacionou-se com todas religiões, abraçou a todos em seus discursos ( especialmente voltado aos pobres e imigrantes, mas também às minorias ), viajou o mundo como missionário e, de quebra, deixou o legado de 4 encíclicas ( uma delas em parceria com Bento XVI ).
Com a interferência na Cúria e a indicação pessoal de 80% dos membros do conclave com direito a voto, tudo indica que o novo cardeal também será um reformista. Aí surge a buzina, de novo. Um papa brasileiro? O cardeal referido, por acaso, é meu primo em segundo grau: Leonardo Ulrich Steiner. Eu o conheci pessoalmente quando ele estudava no seminário de Agudos - SP. Nas férias, minha família visitava meu irmão, que também estudava em Agudos. Meu irmão não virou padre, mas Leonardo sim. Na época nós o chamávamos pelo apelido "Uli" - uma simplificação do Ulrich. Pelo que me lembro era um sujeito muito agradável e tranquilo, ainda que bem reservado.
O Uli que cresceu na Igreja Católica tem excelentes referências, sobretudo uma grande inteligência e capacidade administrativa. Tem uma carreira impressionante na estrutura da Igreja. Foi Secretário-Geral da CNBB por duas vezes. É também conhecido por temas sensíveis, como o indigenismo e a ecologia. Foi, de fato, arcebispo da arquidiocese da Amazônia e preside o Conselho Indigenista Missionário. O ponto fraco é que tornou-se cardeal recentemente ( 2023 ). Além disso, é altamente improvável que se eleja novamente um sul-americano.
As fichas estão voltadas mais para o italiano Pietro Parolin ( Secretário de Estado do Vaticano ), o também italiano Matteo Zuppi ( arcebispo de Bolonha, fortíssimo por ter uma postura conciliadora ), o filipino Luiz Antônio Tagle ( que seria o seguidor mais fiel da visão que Francisco tinha da Igreja ) e, ainda, a possibilidade do primeiro papa Negro - Peter Turkson, um ganês com grande prestígio dentro da Igreja. Um papa brasileiro? Altamente improvável.
Quem teve a felicidade de assistir ao filme Conclave - que concorreu ao Oscar este ano e que merece a recomendação - entende como funciona o processo para se escolher um novo papa. Ali estão representados todos os detalhes: os rituais, a Capela Sistina, o processo de escrutínio, as articulações... Supostamente, a Igreja Católica entende que a escolha se dá, afinal, por inspiração divina, por meio da interferência do Espírito Santo. Esta é, de fato, uma ideia dífícil de aceitar para quem não é crente. De fato, ninguém explica como, se há inspiração divina, raramente o papa é eleito no primeiro escrutínio? Seria preciso aprofundar-se muito no passado histórico para encontrar uma eleição papal em que a fumaça branca foi a primeira a sair pela chaminé. Então, como se explicariam tantas votações? Seria que Deus está hesitante?! Ou seria que os cardeais resistem à inspiração do Espírito Santo?! Como estas duas possibilidades são absurdas ( para qualquer pessoa, não apenas para os crentes ), vamos aceitar que o papa será mesmo eleito pelos 135 cardeais votantes, com suas ideologias, idiossincrasias, defeitos e qualidades. E Uli estará entre eles.
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