Joe Biden abandona o palco em um lance espetacular, mostrando que não está gagá. Trump acusou o golpe.
Imagem de Wikipedia.
“Um gentleman”. Foi a impressão que Jill teve de Joe, após seu primeiro encontro, um blind date, em 1975. Ele havia perdido a mulher e um filho em um acidente de carro, dois anos antes, e o encontro havia sido arranjado por seu irmão, Frank, que conhecia Jill. Eles ficaram juntos, afinal, e se casaram. Ela o ajudou a criar os dois filhos, e tiveram uma filha depois. Deve ter havido um acordo entre os dois, e desde sempre, Jill nunca abandonou suas atividades de professora, enquanto o marido seguia uma carreira vitoriosa como senador, Vice-Presidente dos Estados Unidos, e finalmente, Presidente. Enquanto isso, Jill lecionou em High Schools e Community Colleges, fez seu Master Degree (dois) e um doutorado. Mesmo durante os oito anos em que o marido foi vice-presidente dos Estados Unidos, ela continuou lecionando em Community Colleges.
Dizem que atrás de todo grande homem há uma grande mulher, e este é o caso de Joe e Jill (ela é mais centrada dos dois). Aliás, enquanto escrevo, penso que deveriam fazer um sitcom com a história dos dois. Um típico casal americano, de classe média, que não estudou na Ivy League, e com o marido famoso por suas gafes.
E agora, a desistência da reeleição. Seu oponente, Trump, colecionava triunfos na mídia. Enquanto isso, Joe dava sinais de lentidão e fraqueza mental, culminando com uma performance medíocre no debate com Trump. Lapsos, esquecimentos, falta de agilidade verbal, lentidão física, tudo isso mostrando, aos olhos da opinião pública, um homem velho (ele tem 81 anos) e sem condições de enfrentar o oponente (78 anos), e menos ainda quatro anos de mandato.
Assessores informam, em off, que a performance do presidente Biden, no dia a dia, era adequada. Ele está velho, mas não está gagá e perfeitamente operacional. Ele ainda é o presidente, e atua como líder. Mas uma coisa é o trabalho real, executado em gabinetes, no ritmo ditado pelo chefe; outra é a natureza de uma campanha midiática, movida a Instagrams, Tiktoks, X, e cobertura televisiva em tempo real. A aparência de velhice aqui se desvela nua e crua. Biden, isolado, resistiu, mas mostrando que ainda é o líder, deixou a pressão se acumular e em um golpe seco, num timing perfeito – uma mensagem no X – anunciou a renúncia e o apoio a Kamala Harris. Sleepy Joe? Nem pensar. Ele continua senhor de suas faculdades mentais, um homem poderoso e dono de sua agenda.
Com isso, roubou a cena da Convenção Republicana, em que Trump seria coroado como futuro Presidente dos Estados Unidos, e virou a maré a favor do Partido Democrata. Kamala Harris assumiu o palco, e foi imediatamente (em 48 horas!) apoiada pelas principais lideranças democratas, que, pelo menos desta vez, deixaram de lado as dissenções internas e a ungiram como candidata.
Velho Joe, um gentleman. Um homem preocupado com o país, com seu legado e com seus companheiros. Ele não os deixaria na mão, em nome de seu orgulho e de sua imagem. Ele aceitou estoicamente o papel de Pato Manco nos últimos meses de mandato, cedendo o palco para uma nova geração, representada por Kamala Harris. Aqueles democratas que nos anos 60, durante as tempestades que vinham da Ásia e de suas próprias contradições internas, lutaram pelos direitos civis, igualdade racial, fim da guerra do Vietnã, lutaram a batalha de Watergate e agora enfrentam os desafios do novo milênio, abrem as portas para uma mulher negra, filha de imigrantes, capaz de galvanizar as novas gerações. A chama por eles acalentada seguirá, nas mãos de uma mulher sorridente e enérgica.
Obrigado, Joe. Obrigado, Jill.
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