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ANTES DA TEMPESTADE

Atualizado: 14 de set.

Segue o baile calmamente. Antes dos Beatles. As canções bobinhas de adolescentes animavam os bailes. Hoje se tornaram clássicas.



bobinhas de adolescentes animavam os bailes. Hoje se tornaram clássicas.          Para entender a revolução que os Beatles deflagraram, é necessário ouvir a trilha sonora do início dos anos 60.
Para entender a revolução que os Beatles deflagraram, é necessário ouvir a trilha sonora do início dos anos 60.

Imagem de Spotify



Os mais atentos já haviam percebido que algo estava se aproximando. Algo novo e diferente, algo excitante. Mas ninguém, nem mesmo os artífices da tempestade por vir, sabiam o que aconteceria. Na véspera da tempestade, os ventos param de soprar, o ar torna-se opressivo, as nuvens escurecem no céu. Algo virá, mas as pessoas continuam a levantar todas as manhãs, tomar o café, olhar o movimento na rua, pegar o ônibus para o trabalho de todos os dias, cantarolar velhas canções. Alguém mais previdente lembra de carregar o guarda-chuva. Mas para aquela tempestade, não haveria guarda-chuva. Ninguém seria poupado.


Little Peggy March estava contente, como uma adolescente pode estar contente. Ela tinha quinze anos, e havia se tornado a mais jovem cantora a entrar no Billboard Hot 100 com a canção I Will Follow Him, em 1963. Os versos e a melodia iam direto aos corações dos adolescentes da época. Afinal, ela era uma delas.


Little Peggy March foi a mais jovem cantora (tinha 15 anos) a entrar no Bilboard 100 com I Will Follow Him.


I will follow him/Follow him wherever he may go/And near him, I Always will be/For nothing can keep me away/He is my destiny/I will follow him



No Brasil, uma outra Little Peggy March, Celly Campelo, estava fazendo sucesso com canções semelhantes. Bobinhas, levemente agitadas – afinal, elas eram adolescentes – Celly fez sucesso também com quinze anos – e que registravam o espírito da época. Ela estourou nas paradas de sucesso com Estúpido Cupido (uma versão da canção americana):


Celly Campello era a típica adolescente da época. Ela abandonou a carreira no auge do sucesso para casar e cuidar do marido.

Oh, Cupido, vê se deixa em paz/meu coração que já não pode amar/eu amei há muito tempo atrás/já cansei de tanto soluçar/hei, hei, é o fim/Oh Cupido, vá longe de mim



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Imagem de Youtube



Nesta mesma linha, de canções para jovens adolescentes, uma cantora italiana, Mina, havia feito um tremendo sucesso com uma canção, Tintarella di luna:


A canção Tintarella di luna, cantada por Mina, transformou-se em sucesso na voz de Celly Campello.


Tintarella di luna/Tintarella color latte/Che fa bianca la tua pelle/Ti fa bella tra le belle/ E se c'è la luna piena/Tu diventi candida



Celly Campello entrou na onda, e gravou uma versão, Banho de Lua:


Tomo um banho de lua/fico branca como a neve/Se o luar é meu amigo/Censurar ninguém se atreve/É tão bom sonhar contigo/Oh, luar tão cândido


Celly foi cogitada para apresentar um programa musical com um jovem que estava fazendo sucesso, com baladinhas roqueiras semelhantes, Roberto Carlos. Mas Celly era uma jovem como as jovens da época. Desistiu da carreira musical e se casou, com vinte anos, e teve dois filhos, como devem fazer as mocinhas de família. Isso foi em 1962.


Eydie Gorme ficou em 24.º lugar no Billboard Hot 100 de 1963, com uma canção deliciosa, Blame it on the Bossa Nova. Nada a ver com bossa nova. Só embarcou na onda. Mas o retrato da época está lá, inteiro.


O espírito da época está inteiro na canção Blame it on the Bossa Nova: namorar, noivar, casar e ter filhos.

Now, I'm glad to say/I'm his bride to be/And we're gonna raise a Family/And when our kids ask/How it came about/I'm gonna say to them without a doubt/ Blame it on the bossa nova


Naquele ano de 1963, um grupo, The Cascades, subiu ao primeiro lugar do pódio durante algumas semanas com uma canção, Rhythm of the Rain.


Listen to the rhythm of the falling rain/Telling me just what a fool I've been/I wish that it would go and let me cry in vain/And let me be alone again


No Brasil ela foi lançada por um jovem cantor com cabelos gomalinados, Demétrio, e fez muito sucesso. Alguns anos depois, Fernanda Takai a regravou.



Para lembrar um grupo hoje também esquecido, The Four Seasons teve duas canções na parada de sucesso daquele ano. Mas a canção que ficou foi uma lançada em 1967 por Frankie Valli (líder do grupo), em carreira solo, Can’t Take My Eyes off You. Ela se tornou clássica, mas não deixa de retratar o espírito daqueles anos.


Nenhum deles sabia (ninguém sabia), mas a tempestade anunciada por alguns nos anos 50 havia sido finalmente deflagrada. Em março de 1963, um grupo de adolescentes de Liverpool lançou um álbum. Chamava-se Please Please Me. No álbum, uma cançãozinha de amor adolescente, feita por um adolescente Paul McCartney em 58/59, quando estava na escola, e com uma temática idêntica a de tantas outras canções juvenis da época, Love me do. Mas ela já anunciava os novos tempos. Love, love me do/You know I love you/I’ll Always be true/So please/Love me do.



Em seguida eles lançaram um single, I wanna hold your hand.


I Want to hold your hand iniciou a Invasão Britânica aos Estados Unidos e vendeu mais de 12 milhões de cópias pelo mundo.

It’s such a feeling/that my love /I can’t hide/ I can’t hide/ I can’t hide/


Um radialista americano divulgou a canção antes que a gravadora a lançasse nos Estados Unidos. Foi um tsunami. Não dava mais para esconder. A tempestade desabara, e o mundo nunca mais foi o mesmo.



Este artigo é uma trilha sonora. Todas as canções estão disponíveis no Youtube, grátis, para quem não tem Spotify ou Apple Music. Este é um recorte, e falseia a realidade. O rock já era uma realidade subversiva no mundo, nos anos 50. Andre Rieu fez uma versão gospel de I Will Follow Him, cantado por um coro multiétnico e multirracial. Espetacular. O megaconcerto está no Youtube. Coloquei Can’t Take My Eyes off You na lista porque gosto dela. Mas ela não é uma canção de adolescente. Lennon e McCartney escreviam as canções de maneira descuidada, segundo eles mesmos. Não sabiam que estavam fazendo uma revolução.

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