O que dá para rir dá pra chorar. Questão só de peso e medida. Problema de hora e lugar.
Imagem de Pleno News.
Deve-se ao jornalista Guilherme Amado, do site Metrópolis, a revelação dos diálogos mantidos pelo ministro Gilmar Mendes e o senador Sérgio Moro, em reunião ocorrida no dia 2 de abril. Moro pouco falou, em uma reunião que durou 90 minutos.
O senador, segundo a nota de Guilherme Amado, disse que nunca atacou o Supremo e que não concordava com os ataques que o Tribunal sofria. Dallagnol não é seu amigo, nem Marcelo Bretas. Foi interrompido por Gilmar:
“Você e Dallagnol roubavam galinha juntos. Não diga que não, Sérgio”.
Durante todo o encontro, Gilmar Mendes tratou o senador como “Sérgio” e “Você”, que, por sua vez, o chamava de “ministro” e “senhor”.
Em certa altura, disse Gilmar:
“Você faltou a muitas aulas, Sérgio. Curitiba não te ajudou em nada. Aproveite que está no Senado e estude um pouco. A biblioteca do Senado é ótima, você deveria frequentar.”
O senador Wellington Fagundes, do PL de Mato Grosso, assistiu em silêncio a sessão de humilhação. Provavelmente deve-se a ele a divulgação da conversa, certamente com a anuência do ministro Gilmar Mendes. Conversas entre grão-senhores da República não se divulgam sem que o Grão-Senhor Máximo esteja interessado em publicá-la.
A sessão de expiação do Senador ocorreu em um momento em que se julga, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, uma ação promovida pelo PT (leia-se Lula) e pelo PL (leia-se Bolsonaro), que pode resultar na cassação do senador Moro. O mandato do senador está por um fio, acossado simultaneamente por seu ex-aliado e pelo PT.
Tudo indica que a soma de inimigos que Sérgio Moro atraiu levará à sua destruição, seja nesta ação ou nas demais que virão (os entendidos dizem que o maior problema serão as contas da Vara Judicial que presidiu). Um único fator, na minha opinião, o salvaria: sua atuação no Senado, pouco além de medíocre, não traz problemas ao Governo, eis que seu único objetivo, hoje, é salvar sua pele. O voto em Flávio Dino, um notório comunista indicado ao Supremo Tribunal Federal, mostra isso. Além disso, uma nova eleição levaria ao Senado a mulher de Bolsonaro ou um aliado fiel.
No meu cantinho de observador, lembro as reviravoltas processuais, tão comuns no meio jurídico, e que hoje se transformaram em regra, tal a bagunça em que o Direito brasileiro se tornou. Os juízes tarimbados sabem disso e, como uma segunda natureza, vestem a pele da neutralidade. Suas sentenças poderão ser reformadas, o condenado passa a ser inocente, o enjaulado é libertado. A confusão entre Direito e Política transformou este fato judicial corriqueiro em certeza de tempestade. Arrasa-quarteirão. Sérgio Moro confundiu os papéis (de juiz e político), como se viu na Vaza Jato, e quando se engajou, pouco disfarçadamente, na campanha de Bolsonaro e quando aceitou ser seu ministro da Justiça.
Chegou a cobrança. Só resta a Sérgio Moro ir à Biblioteca do Senado e estudar um pouco.
Ou tocar um tango argentino.
Acho que a leitura dos clássicos sempre ajuda. Se nossos políticos (e juízes) os lessem seriam mais comedidos em suas pretensões a salvadores da Pátria. Como não lêem, não sabem quão ridículos e previsíveis são. Então escutem Billy Blanco, que está na epígrafe. Na mesma canção ele diz: “No jogo se perde ou se ganha, caminho que leva que traz.” Lula, que hoje está rindo, deveria parar para pensar. Ele, pela sua história, sabe disso. Vale para todos.
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