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REQUIÃO: PRISÃO INJUSTA. BOLSONARO PRECISA É DE HOSPITAL PSIQUIÁTRICO E REMEDINHO

Atualizado: há 19 minutos

REQUIÃO: PRISÃO INJUSTA, BOLSONARO PRECISA É DE TRATAMENTO
REQUIÃO: PRISÃO INJUSTA, BOLSONARO PRECISA É DE TRATAMENTO

Caio Brandão


Saudades do telefone analógico, aquele preto, pesado, que fazia austera presença nas casas de família, o que, inclusive, denotava algum status. Carro na garagem, nome em negrito nas listas telefônicas e parentes militares, clérigos ou médicos, nada mais apropriado para elevar a autoestima da sociedade de então. Uma filha desvirginada, diagnosticada histérica e conduzida compulsoriamente ao recato de um convento, também fazia parte do contexto, a cereja do bolo.


Agora, tudo muito rápido, com informação transbordante e telefone até em relógio de pulso, um horror. E foi assim que eu soube, pelo Roberto Requião, cujo currículo não cabe na Wikipedia, das suas dores ciáticas, que o atormentam há meses, um tipo incomum, que vem de dentro para fora e o castiga à revelia dos analgésicos.


 — Estou melhor, disse-me Requião ao celular, referindo-se às dores pelo tempo ora amortecidas, após meses de submissão ao que se apresenta crônico e persistente.


-Que pena, brinquei, completando o comentário com uma almofada de sorriso amigável porque, afinal, “o amigo está colhendo um pouco da sua semeadura ao longo dos cargos que ocupou. Você sacaneou muita gente – alguns mereceram - e agora, deve aceitar com humildade esse período de provação, uma pílula apenas, você suportaria mais”.

Requião, ainda que não o demonstre, tem senso de humor. Matou no peito o comentário indigesto travestido de brincadeira e, mudando o norte da conversa, perguntou-me:


-Você acompanhou as últimas do Bolsonaro?


-Sim, respondi, acrescentando estar atento ao condão das vigílias, à ocorrência de surtos psicóticos e ao poder do ferro de solda, capaz de levar alguém à masmorra, ainda que provida de televisão, frigobar e cama aquecida, tudo em ambiente acolhedor e privativo. 


Requião concordou, fez um atalho pelo Banco Master e à sua influência nos trâmites da privatização da Copel, e desaguando comentários acerca da pobreza de ideias, de planos e de programas de governo, e da submissão da sociedade e da mídia aos temas paupérrimos que absorvem a atenção dos brasileiros, segundo ele descuidados na avaliação da realidade rigorosamente necrosada a que estamos submetidos.


-Você está certo, completei: - Estamos sendo consumidos pela pauta bolsonarista, cuja família e caterva criam a todo momento factoides, uns fluidos e outros nem tanto, gerando solavancos na forma de pensar e compreender o meio em que vivemos e as nossas perspectivas de futuro. Vejamos a vigília engendrada pelo senador, filho primogênito, a que se proporia? Buscar bênçãos e remédios divinos para os males que minam a saúde de Bolsonaro, ou a mitigar os julgamentos gestados na complexidade dos trâmites do STF? Ou a abrir espaço para a aprovação de anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional? Ou, ainda que temerária a tarefa, facilitar a fuga do indigitado para se refugiar em alguma embaixada nas redondezas?


Sobre anistia nos termos acenados, já dizia o festejado criminalista Dino Miraglia, “tenho uma extensa lista de clientes buscando carona nessa brecha, alguns inclusive sofrendo de severas comorbidades, inclusive psiquiátricas." Segundo Dino, existem no Brasil mais de 500 mil apenados, e vários deles relegados ao abandono de suas demandas urgentes e necessárias. Mas, afinal, diz o Dino, são apenas pessoas sem capital político e de zero poder de pressão afora o ordenamento jurídico, que atualmente não anda sendo levado muito a sério.


Retornando à conversa, perguntei ao Requião sobre o ferro de solda, porque do seu extenso currículo também consta período dedicado ao radioamadorismo.


Pessoas díspares, sem afinidades, mas que têm algo em comum, além de trajetória parlamentar. Um foi radioamador, e o outro fez curso intensivo de eletricidade, com especialização em ferro de solda, instrumento indispensável à lida com placas de circuitos simples ou complexos.


Tornozeleira eletrônica violada por Bolsonaro

Você ainda possui ferro de solda? Perguntei ao Requião. Não, respondeu-me, alegando que agora prefere pagar para ver os circuitos se conflagrando, por ser mais divertido e instrutivo, acrescentou.


E, continuando, disse que Bolsonaro não soube vencer a inércia térmica, porque os plásticos de alta resistência tendem a ser mais espessos e dissipam o calor mais rapidamente para o restante da peça. Assim, informou: “uma potência mais alta garante que a ponta do ferro mantenha a temperatura de trabalho, o que não aconteceu. Bolsonaro entende tanto de ferro de solda quanto de vacinas, concluiu alegando, com discreta risada, que quem com ferro fere, com ferro será ferido.


Pois é, acrescentei: - O Bolsonaro, que alega ter especialização no uso do ferro de solda, deve ter se enganado na escolha da ferramenta e usado um ferro de 30 ou 40 W, enquanto precisaria de um com ao menos 100 W de potência para derreter o plástico do seu adorno de calcanhar. Mas, como ele estaria sob o efeito de soníferos ou algo do gênero, a confusão pode ser explicada.


É a pressa, completou Requião, sempre inimiga da perfeição. Ademais, prosseguiu:


-Achei injusta a preventiva do Bolsonaro. Pelo conjunto de sua obra, de suas manifestações, pontos de vista e malabarismos sobre duas rodas, além das conjecturas que fez sobre vacinas e tentativa de permanência no cargo, parece-me mais apropriado que seja ele confinado em estabelecimento hospitalar, capaz de demovê-lo, mediante tratamento adequado, inclusive medicamentoso, de ideias deletérias e trazê-lo de volta à realidade das consequências das suas escolhas. Um longo período de repouso, para reflexão e a  leitura da Carta Magna – talvez ele só conheça as quatro linhas da Constituição – lhe fará bem.


Diante disso e da justeza da colocação impecável, na minha avaliação, preferi encerrar a conversa mudando o assunto para pílulas rejuvenescedoras e o surgimento de nova família de antibióticos e a eliminação do papel-moeda da forma como o conhecemos.


Essa conversa vai longe.

 

Caio Brandão é jornalista mineiro e sabe de tudo
Caio Brandão é jornalista e sabe das coisas.


 

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