Jayme Canet Jr., o enigmaaaático governador!
- CELSO NASCIMENTO

- 23 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de set.
Celso Nascimento

Festas de inauguração, lançamento de pedras fundamentais, comícios gigantes, reuniões políticas, festas populares com a presença de multidões faziam parte da rotina trepidante do governador Jayme Canet Jr. (1975-79), principalmente no interior do estado.
Estas ocasiões costumavam retratar o prestígio do governante que, ao deixar o mandato, legara ao Paraná obras nunca dantes realizadas por antecessores nem depois pelos sucessores – como os 4 mil quilômetros de estradas asfaltadas, as 6 mil novas salas de aula, duas das maiores hidrelétricas e, mais importante que tudo, a recuperação da agricultura estadual após a devastação provocada pela geada negra de 1975 que dizimara a cafeicultura e matara os campos de trigo.
A popularidade de Canet contrastava com sua personalidade fechada, a cara de poucos amigos e o rigor administrativo e ético que marcavam sua gestão.
É certo que os aplausos trepidantes que recebia das multidões eram bem orquestrados e conduzidos pelo Brasil Filho – um radialista de Londrina bom de voz e de retórica retumbante diametralmente opostas à sua simplicidade natural e aos seus parcos dotes culturais. Graças, porém, à sua capacidade de entusiasmar o público, era frequentemente contratado como mestre de cerimônia das grandes reuniões interioranas.
O problema era apenas a pobreza vocabular do Brasil Filho. Pródigo em desfilar adjetivos elogiosos ao apresentar os oradores que se revezavam nos palanques, cometia, digamos, “deslizes” quanto ao significado desses adjetivos. Bastava-lhe que soassem grandiloquentes.

Numa dessas ocasiões, Brasil anunciou o ápice da festa, o discurso de Canet, disparando com sua voz grave:
- E agora, com vocês, o grande, o competente, o corajoso, o extraordinário, o enigmaaaático governador Jayme Canet Jr.!!!
É possível que o calor dos aplausos simultâneos tenha abafado o entendimento correto do insólito adjetivo empregado pelo mestre de cerimônias que ressoou nos possantes alto-falantes, mas causou espanto e risos entre os mais graduados ocupantes do apertado palanque. Dentre eles o então secretário do Planejamento, o fino intelectual Belmiro Valverde Jobim Castor, que discretamente aproximou-se do Brasil para pedir-lhe num cochicho que não mais usasse o adjetivo enigmático para definir o grande, o corajoso, o extraordinário governador Jayme Canet.










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