Chegou o Natal. A roda gigante da Rua XV está funcionando. As crianças giram e os pais tiram selfies. O cronista-flaneur, como sempre, se deixa dominar pela melancolia natalina.
Imagem de ExtraCWB.
A roda gigante na Rua XV já começou a funcionar. No final da tarde, uma fila ainda pequena se forma com famílias, pais, adolescentes, crianças, ávidas para ver o mundo girando, lentamente, de cima para baixo, de baixo para cima. Uma nova perspectiva em uma vida rotineira e banal. Passo por todo tipo de pessoas com celulares na mão, tirando selfies e fotos da multicolorida rua. As aulas se encerraram e os pais passeiam pela rua com pimpolhos alegres. Mas não só eles. Velhos e adultos sozinhos tiram fotos. Compenetrados, mas não parecem solitários. O espírito do Natal contagiou a todos.
Nem todos. No trecho da Rua XV, entre o Bondinho e a Monsenhor Celso, passei por três surtados. Um deles murmurava visões apocalípticas, um outro gritava, e um terceiro caminhava pequenos trechos e voltava, aos gritos. Os transeuntes como eu, acostumados, evitavam o contato próximo, caminhando ora para cá, ora para lá, em ziguezagues ou a passo acelerado. A maioria os ignorava, procurando melhores posições para as selfies ou fotos do iluminado Bradesco (que já foi Bamerindus, depois Santander) ou do Bondinho ou da árvore do Boticário. Os surtados e homeless já se incorporaram ao cenário urbano.
Músicos de rua tratavam de alegrar as pessoas. Sinto falta do saxofonista que certa vez encontrei na feirinha da Praça Osório tocando Bella Ciao. Ele era um homem tímido, e tocar na rua foi uma experiência liberadora, contou. E deliciosamente apaziguadora para o espírito desassossegado do caminhante noturno. Talvez apareça nos próximos dias.
Mas não eram canções natalinas. Nenhuma das clássicas foi tocada enquanto percorria o trecho. Noite Feliz, a clássica das clássicas, ou Boas Festas, de Assis Valente. Frank Sinatra, com sua voz aveludada, ou Bing Crosby, ou Judy Garland quase sussurrando, ternamente, Let your heart be light / Next year all our troubles will be out of sight.
Com o coração leve, seguiremos. Afinal, é Natal.
Feliz Natal para todos.
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