Gracias quiero dar al divino
Laberinto de los efectos y de las causas
Por la diversidade de criaturas
Que forman este singular universo
Imagem de Hatsuo Fukuda
A praça verdejante se esconde em meio à aridez do entorno. De um lado, a indiferença mercantil, de outro, a mediocridade dos indiferentes. Carros circulam na Avenida Visconde de Guarapuava, atentos somente ao próprio fluxo. Chego lá, com a minha maçã na mochila, minha garrafinha de água Ouro Fino (não tinha San Pellegrino, fazer o quê?), minha ânsia por sombra em uma tarde quente para nossos padrões curitibanos. Sento-me em um banco embaixo de uma árvore frondosa, como se fosse uma mãe amorosa – o que ela é – refrescando um filho de três meses. Sou eu o filho acalorado, e anseio por um pouco de frescor.
Cumprimento o Semeador à minha frente.
Minha atenção se distrai com a algazarra dos jovens espalhados pela praça, sentados na grama, em pequenos grupos. Ao lado do anexo da Câmara de Vereadores, uma tenda abriga a feira Mamute, uma feira de artistas gráficos e empreendedores. Em um pequeno palco ao lado uma banda anima uma pequena multidão. Um som estimulante à maioria dos jovens de pé, dançando animados. Percorro a tenda em meio ao rebuliço, mas não compro nada. Volto à banda e observo jovens casais dançando, alguns de mãos dadas. Algumas crianças nos ombros dos pais enternecem meu coração calejado.
Imagens de Hatsuo Fukuda
O banco em que eu estava foi ocupado, e eu me sento na grama. Observo as proporções da estátua, seu dinamismo, a energia concentrada com que se prepara para semear a terra, com a mão direita fechada, para trás, no momento anterior ao do espargimento dos grãos, com as pernas em movimento, em uma total integração ao trabalho e à terra. Para ele, é um mero ato quotidiano, tantas vezes repetido, de ganhar o pão de cada dia, como antes devem ter feito os seus pais e seus avós e farão os seus filhos. Mas o artista conferiu um tom determinado ao gesto, revelando sua grandeza.
Caminho até o Shopping Estação e entro na fila do McDonalds para uma casquinha. Uma multidão se acotovela na praça de alimentação. A doçura do sorvete acalma a quase fobia pela multidão.
Volto à praça e me misturo aos que dançam ao som da banda Notívagos. A noite chegou e a turma está cheia de energia e bom humor. Estão prontos para semear a terra.
Jan Zak (Zaco Paraná) é o autor da estátua O Semeador, na Praça Eufrásio Correia. A Colônia Polaca presenteou a cidade com a estátua, em 1922. No Jardim Botânico você encontra outra obra dele, Amor Materno. É talvez o maior símbolo do Estado e o que melhor o representa. Fico imaginando o esforço que significou, para a colônia polaca (agricultores pobres, e poucos), no início dos anos 20, juntar o rico dinheirinho para pagar a homenagem. Os versos são de Borges, em Otro Poema de los Dones.
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