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OS PECADORES (THE SINNERS) INDICADO AO GLOBO DE OURO

Os Pecadores, um filme de vampiros, recebeu 7 indicações para o Globo de Ouro, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator, Roteiro e Trilha sonora. É um dos melhores filmes do ano. Haja mordida no pescoço, haja estaca, haja sangue. E é também diversão para músicos e intelectuais.

Os Pecadores, um filme de vampiros, recebeu 7 indicações para o Globo de Ouro, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator, Roteiro e Trilha sonora. É um dos melhores filmes do ano. Haja mordida no pescoço, haja estaca, haja sangue. E é também diversão para músicos e intelectuais.


Preparem a pipoca, a gasosa, a pizza. Vai começar a diversão. The Sinners (Os Pecadores), um filme de vampiros, está na praça, com direito a mordidas no pescoço, gritos, estacas de madeira, alho e esguichos de sangue. Haja sangue, haja estacas no coração, haja coração. O clássico filme de vampiro (ou zumbi), em que um grupo de heróis é cercado por uma horda sedenta de sangue, que diverte as platéias de adolescentes do mundo inteiro, encontrou em Ryan Coogler um desafiante à altura dos clássicos que o antecederam.


Michael Jordan interpreta os gêmeos no filme The Sinners. Foi indicado ao Globo de Ouro pelos papéis.
Michael Jordan interpreta os gêmeos. Foi indicado ao Globo de Ouro pelos papéis.

Fuligem e Fumaça, nossos dois heróis, retornam à Clarksdale, Mississipi, com dinheiro e um caminhão cheio de bebidas que eles roubaram da máfia, em Chicago (estamos em 1932). Encontram seu primo, Sammie, um colhedor de algodão e guitarrista. Eles querem montar uma casa de blues, onde os negros possam dançar, beber e se divertir.


A ação se passa em um único dia e noite, basicamente em uma serraria abandonada de Clarksdale, onde se reunirão os fregueses e onde eles serão cercados por uma horda de vampiros sedentos de sangue e onde nossos heróis travarão a batalha pela sobrevivência. Lembra algum outro filme?


Esta narrativa, simples como todo filme de vampiro, é o aparente leitmotiv do filme. E funciona, porque Coogler, um cineasta hábil, sabe como agradar à platéia, como se viu nos dois Pantera Negra e Creed, também de sua autoria. Nenhum adolescente deixará de se divertir com o filme. Aliás, eu assisti o filme chamado pelo meu filho adolescente, e permanecemos magnetizados durante todo o filme.


Mas para alegria dos intelectuais que me lêem, que gostam de filmes com conteúdo sério, filmes com mensagem política ou ideológica, filmes de arte, Coogler retrata o vampirismo em uma cidadezinha segregada e racista, com a Main Street com lojas para brancos de um lado e lojas para negros de outro. A Ku Klux Klan é onipresente e atuante. Ai do negro que se atreva a sair de seu lugar. Seu destino será se transformar em um daqueles strange fruits das árvores do Sul, como cantou Billie Holliday. The Sinners lembra a denúncia política de Mississipi em Chamas.


A Clarksdale mítica de Ryan Coogler no filme The Sinners.
A Clarksdale mítica de Ryan Coogler

A maestria do cineasta se vê nos primeiros quarenta minutos do filme, em que apresenta seus personagens e a cidadezinha.


Só aos quarenta e um minutos surge em cena o primeiro vampiro. Neste primeiro ato, conheceremos os personagens, seu background, a cidadezinha, o mundo negro e seus sonhos, seus temores, sua religiosidade, e sua música.


Mas não se preocupe. Você não se entediará neste período, tal a habilidade narrativa de Coogler. Nossos heróis serão confrontados por antigos amores, velhos amigos se reunirão – e instantaneamente se tornarão parte da lenda – e o blues terá uma palhinha, prévia da explosão musical que se dará na festa noturna. Tudo isso no cenário de uma Clarksdale mítica que, na visão de Coogler, é um retrato do pesadelo americano (“Chicago é uma Clarksdale com arranha-céus”).  


O blues quebra as barreiras da vida e da morte, do tempo e do espaço.

Mas Coogler não é um cineasta bidimensional. Talvez o principal tema do filme seja a ode que ele faz ao blues como expressão própria da negritude americana. Deixo a questão aos especialistas em música, que conhecem o pedigree do blues. Para nós, espectadores, fica a emocionante rendição musical de Sammy e seus amigos na festa, quebrando as barreiras da vida e da morte, atraindo personagens do passado e do futuro, todos embriagados com o momento único em que a humanidade ultrapassa tempo e espaço em comunhão com Deus. Alguém comparou esta cena com a cena da festa em West Side Story e disse que na realidade o filme é um musical. Tem sentido.


Há mais, muito mais. Camadas e camadas de sentido se harmonizam nas mãos de Coogler. Não há tédio. Além de ser um filme de vampiro, é uma aventura intelectual e estética. O filme, que está nos streamings – infelizmente não está em cartaz nos cinemas –, admite inúmeras outras leituras. Estas deixo para os intelectuais e amantes de cult movies. Eu fico com a pipoca, a gasosa e a pizza. Imperdível.


Não abandone o filme quando os créditos surgirem. A emoção só termina quando acaba.

 O cantor e guitarrista Buddy Guy interpreta Sammie nas cenas finais, quando começam os créditos.

Os Pecadores (The Sinners). Produção, direção e roteiro de Ryan Coogler. Michael Jordan interpreta os gêmeos Fuligem e Fumaça. Miles Caton é o guitarrista Sammie. O cantor e guitarrista Buddy Guy interpreta Sammie nas cenas finais, quando começam os créditos. O elenco todo é espetacular. Ludwig Goransson assina a parte musical. Na HBO para assinantes, e nos demais streamings para comprar ou alugar. Compre. É uma pechincha levando em conta o preço dos ingressos de cinema. Você vai querer assistir novamente.


Hatsuo Fukuda


Hatsuo Fukuda, cinéfilo de arrabalde, gostou de The Sinners.

 Hatsuo Fukuda, cinéfilo de arrabalde, gostou de The Sinners.

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