QUANDO EU CRESCER, QUERO SER MULHER DO PID
- Miriam Giro

- 19 de set.
- 3 min de leitura
Miriam Giro

Nossa nova colunista, Miriam Giro, filósofa, andou por Goiás, e viu o impacto do Ponto de Inclusão Digital - PID - nos sertão, inspirando crianças e adultos.
Miriam Giro, nossa nova colunista, é filósofa, bacharel em Direito, professora. Viajante incansável, da vida e de nossas terras, nasceu em Sertanópolis, a 50 km de Londrina, mas cresceu em Londrina e tem os pés bem, bem vermelhos.
Observadora sagaz, andou por Goiás, em território Kalunga, e traz aos nossos leitores o significado de um programa da Justiça brasileira – PID – Pontos de Inclusão Digital - nos mais distantes rincões do país. No caso, o interiorzão de Goiás, cujas paisagens e nomes lembram as andanças de Riobaldo e Diadorim nos sertões. PID é Grande Sertão, Veredas na era digital, e, como anotou a viajante, impacta a vida das crianças. É a Justiça saindo da toca do dever-ser e
falando com o mundo do ser.
Boa leitura.
(Redação)
QUANDO EU CRESCER, QUERO SER MULHER DO PID
Miriam Giro
No noroeste de Goiás existe uma região belíssima chamada Chapada dos Veadeiros. Parte dela é ocupada por quilombolas desde uns 300 anos.
Morando em lugares com nomes incríveis como Vão das Almas, Riachão, Volta do Campo, Buriti Comprido e Tinquizal, a população se denomina Kalunga e há cerca de 30 anos se organizou em torno da Associação Quilombola Kalunga – AQK – que tem como um de seus principais objetivos impedir que invasores, especialmente garimpeiros e/ou mineradoras e agropecuaristas, apropriem-se de seu território.

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Vão das Almas, em Goiás, por onde andou nossa viajante, Miriam Giro.
As belezas naturais da região também têm atraído os interessados no “ecoturismo” e muitas pousadas estão em operação nos hoje municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre que, na organização geopolítica atual são “sede” do território kalunga. Muitas ações acerca de posse, uso e ocupação de terras correm na Justiça mas os kalungas não costumavam botar muita fé no que aqueles engravatados e homens e mulheres de preto decidiam acerca de seu território.
Hoje, uma ação do TJ Goiás, chamada Raízes Kalungas, vem fazendo a diferença na vida de pessoas que vivem em lugares de difícil acesso (afinal, quanto mais longe e escondido eles se estabelecessem, maiores as chances de não serem encontrados e assassinados ou obrigados a voltar à vida de escravidão).

O território Kalunga, em Goiás, pelos nomes e paisagens, lembra o Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa.
Um componente dessa ação é a instalação de Pontos de Inclusão Digital (PIDs) em várias sedes de municípios e, futuramente, dando tudo certo, em pontos rurais onde a comunidade costuma se encontrar e celebrar seus festejos e organizar suas lutas. Segundo o sítio eletrônico do CNJ, os
“Pontos de Inclusão Digital (PIDs) no Poder Judiciário tem como objetivo estimular a expansão de hubs de acesso para os portais e balcões virtuais de todos os tribunais da jurisdição, consistindo em uma sala ou espaço em um órgão público da própria localidade, devidamente equipado com computadores e câmeras providos pelos tribunais em cooperação, para acesso do cidadão”.
No território kalunga, atualmente, estão em operação alguns PIDs que contam com “operadores” – geralmente jovens mulheres kalungas – que atendem a comunidade para, além de prover serviços jurisdicionais, tais como participar de audiências on line, protocolar pedidos de documentos e de benefícios e, eventualmente, com sorte, ter atendimento médico à distância.
Funcionando há cerca de um ano, os PIDs operantes nos municípios que abrangem o território kalunga se tornaram um sucesso e, hoje, meninas kalungas que sonhavam em ser professoras ou assistentes sociais – profissões que mais mulheres kalungas conseguem ocupar na sociedade goiana – afirmam que, quando crescerem, querem ser “a mulher do PID”.
Como dizem os goianos: Bom dimaisss, siô.

Miriam Giro nasceu em Sertanópolis, vive em Londrina, é filósofa, bacharel em Direito e viaja pelos mares da vida.










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