Vargas Llosa toma cerveja na Catedral e ganha o Prêmio Nobel
- Hatsuo Fukuda

- há 2 minutos
- 2 min de leitura

“Da porta de La Crónica, Santiago olha a Avenida Tacna sem amor: automóveis, edifícios irregulares e desbotados, esqueletos de anúncios luminosos flutuando na neblina, o meio-dia cinzento. Em que momento o Peru tinha se fodido? Os pequenos jornaleiros circulam entre os carros parados pelo sinal da Avenida Wilson anunciando os jornais da tarde e ele começa a andar, lentamente, em direção à Colmena. As mãos nos bolsos, cabisbaixo, vai escoltado por transeuntes que avançam, também, em direção à Praça San Martin. Zavalita era como o Peru: tinha se fodido num certo momento. Pensa: em qual? Diante do Hotel Crillon um cachorro vem lamber-lhe os pés: tomara que não esteja raivoso, fora daqui. O Peru está fodido, pensa, Carlitos está fodido, todos fodidos. Pensa: não há solução.”

Este é o início de uma das grandes aventuras literárias já produzidas na América Latina – e provavelmente no mundo – Conversa na Catedral, de Mario Vargas Llosa, na tradução de Olga Savary, e que rendeu ao autor o Prêmio Nobel.
Catedral é o bar La Catedral, onde Zavalita (o autor) inicia sua jornada entre goles de cerveja Cristal, sopas fumegantes, travessas de arroz e esvoaçantes enxames de moscas, embalado em uma barulhenta trilha sonora vinda de uma radiola multicolorida.

Vejo no onipresente Google notícias do retorno de Vargas Llosa às ruínas do La Catedral, cinquenta e cinco anos depois.
E a pergunta ainda ressoa no ar: quando o Peru terá se fodido? Quando a América Latina se fodeu?
Zavalita, Zavalita, seu destino é o nosso.
Hatsuo Fukuda










Comentários