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A ABERTURA PARA O SER E AS BOTINAS DE VAN GOGH

Inês Lacerda Araújo reflete sobre o sentido do ser. O que tema as botinas de Van Gogh a ver com isso?
Inês Lacerda Araújo reflete sobre o sentido do ser. O que tem as botinas de Van Gogh a ver com isso?

Inês Lacerda Araújo

 

Um dos conceitos mais abstratos e difíceis de compreender em Filosofia, é o de Ser. Ao mesmo tempo empregamos o verbo "ser" o tempo todo e nas mais diversas situações. É o primeiro verbo que se aprende em uma língua estrangeira e isso porque é impossível entender os estados de coisa, as situações, fazer sentido, compreender e comunicar-se sem o verbo ser.


Saindo um pouco do cotidiano, o Ser é entendido de modo diferente por cada filósofo, cada escola de pensamento. Assim, por exemplo, para Platão, Ser é ideal, é ideia, tudo o que é inteligível. No sentido mais sublime e necessário, o ser é a Ideia de Bem. Demiurgo, o Deus fazedor de tudo, usou os modelos ideais para formatar tudo o que existe.


Para Nietzche, o além do homem precisa desconfiar daquilo que inventou para justificar a sua própria fraqueza.

Se dermos um salto para o século 19, para Nietzsche, sem Deus, prevalecem a vida, os valores, o dar sentido, renovar e extrair de si força dionisíaca. Para renovar, para ganhar força de leão, ser seu próprio legislador, é preciso desconfiar daquilo que se inventou para si a fim de justificar a fraqueza humana, inclusive os conceitos abstratos da Filosofia. Portanto, desconfiar do Ser.


Heidegger pega água na fonte em sua cabana em Todnauberg, na Floresta Negra
O ser de Heidegger está imerso na banalidade do dia a dia, encontrando a abertura do ser no palco do mundo.

Heidegger (1889-1976) vê o Ser de outro modo, num primeiro momento é o ser humano mortal, ser aí enraizado no mundo, imerso na banalidade do dia a dia. Em um segundo momento o homem é aquele que possibilita a abertura para o Ser neste palco que é o mundo.


E como o mundo recepciona? Atualmente com a velocidade, com o tempo controlado, com a conquista do espaço, cada canto do planeta utilizado, cada instrumento e cada técnica são disponibilizados, tudo ficou ao nosso alcance, nos serve. E mais, tudo passa por planejamento, por disciplina, por organização, por controle.


O ser foi parar neste nosso mundo de coisas, do ter que fazer isso ou aquilo, dominados por modos de pensar e de ser uniformizados. 


Assim, cultivar e cuidar do Ser, pastorear, encontra essas séries de empecilhos. 

A busca do Ser, digamos, se complicou. E isso por nossas próprias ações, projetos, produções, guerras.


Van Gogh, suas botinas, e o sentido do ser? Heidegger achava que tinham tudo a ver.
Van Gogh, suas botinas, e o sentido do ser? Heidegger achava que tinham tudo a ver.

Onde reencontrar o Ser? Os caminhos para a autenticidade, para uma nova relação com o Ser viriam da linguagem, da poesia, da arte, da reflexão filosófica. Aberturas para o Ser se mostram num templo grego, em um quadro renascentista; olhar a natureza e usufruir dela diretamente, conduz ao Ser; o mergulho na poesia que renova o olhar, o sentir, remete ao Ser.


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Inês Lacerda Araújo é filósofa e está a procura do ser.

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