O QUE NOS UNE E NOS CONDENA
- Tião Maniqueu
- 21 de fev.
- 3 min de leitura
Lula e Bolsonaro encontram-se na parte baixa do círculo.

Imagem de: www.slon.pics / Freepik
Tenho dito, insistentemente até, que figuras como Lula e Bolsonaro possuem muito mais em comum do que se imagina. Na verdade, ambos compartilham inúmeras características, muito mais consideráveis do que aquilo que os distingue. Isso ocorre porque quanto mais uma pessoa se aproxima da extrema direita mais se assemelha à extrema esquerda e vice-versa.
Nos últimos dias, Lula voltou a provar esta teoria. Ele não pode, rigorosamente, ser situado na extrema esquerda, embora flerte com ela e seus valores. Mas sempre que pressionado, sempre que pessoalmente desapontado com o panorama geral ( como agora, quando sua popularidade está baixa como ele jamais viu ) Lula manifesta um sentimento, quase atávico, de lançar-se à extrema esquerda.
Empossando Gleisi Hoffman como Ministra das Relações Institucionais, uma medida que por si só já representa uma guinada à esquerda, Lula falou de improviso. Falar de improviso e cometer gafes é uma característica que Lula compartilha com Bolsonaro. Estas gafes não representam meros deslizes porque o orador está falando de improviso. Representam manifestações de pensamentos arraigados que no discurso preparado são cuidadosamente velados. Quando a pessoa fala de improviso, deixa escapar suas verdades. Algo assim como o ébrio sincero.
Bolsonaro é claramente misógino. Frases como jamais estupraria você, você não merece ser estuprada, sempre compuseram sua questionável carreira política. Quando, falando de improviso, mencionou a filha que é seu quinto rebento, disse que veio uma menina porque ele deu uma fraquejada. Mais do que palavras, sempre posicionou-se contra a licença-maternidade, a igualdade salarial das mulheres, a distribuição de absorventes para mulheres carentes. Sua misoginia espelhou-se na composição ministerial e nas indicações para altos cargos no Judiciário, tanto quanto ocorre com o Presidente Lula. Na posse de Gleisi, novamente Lula revelou seu lado misógino, algo de que se suspeitava, mas permanecia velado. Ele afirmou que escolheu Gleisi Hoffman porque era uma mulher bonita e isso facilitaria o relacionamento com os presidentes da Câmara e do Senado. A mensagem foi lida da seguinte forma: escolho você porque é bonitinha, não porque é capaz. Levou pancadas de tudo que é lado, não apenas por ser politicamente incorreto, mas porque, novamente, revela sua misoginia, que não se aproxima do nível do Jair, mas que preocupa as mulheres conscientes do país.
Outra coisa que está aproximando a gestão Lula da gestão Bolsonaro é a utilização dos recursos públicos na busca de melhorar as chances na futura eleição. Bolsonaro sangrou os cofres públicos de uma maneira inédita na tentativa de catapultar sua eleição. Aumentar o auxílio-Brasil ( o bolsa-família no seu governo ), criar um auxílio gás e um voucher caminhoneiro foram medidas provisórias tomadas no final de 2022, estourando as contas públicos com nítido interesse eleitoreiro. Agora, com a popularidade baixa, Lula preocupa-se com o pleito de 2026 e adota medidas semelhantes, mandando as contas públicas às favas. O pé de meia, o empréstimo consignado CLT e aumentar a farmácia popular, são medidas que comprometem a saúde fiscal do país e não atacam a raiz dos problemas. E, tal qual Bolsonaro, são medidas com nítido caráter eleitoreiro tomadas por quem está preocupado com a reeleição.
Estas semelhanças entre Lula e Bolsonaro são compreensíveis. É preciso parar de imaginar extrema direita e extrema esquerda como separadas numa longa linha que contém todo espectro político. Ao contrário, pense num círculo. Situe partidos moderados e com pensamentos diferentes lado a lado. Escolha, por exemplo, um social-democrata e um liberal. Coloque-os lado a lado na parte superior de um círculo. À medida em que o liberal se desloca para a direita e o social democrata se desloca para a esquerda eles se afastam até um ponto ( 90 graus ). Se continurarem caminhando, tornando-se cada vez mais radicais, o liberal e o social-democrata aproximam-se cada vez mais, até se encontrarem, finalmente, na parte baixa do círculo. Então já não serão mais um liberal e um social-democrata, mas alguém da extrema direita e alguém da extrema esquerda, lado a lado, próximos. Nesta parte do círculo estão o autoritarismo, a repressão à liberdade de imprensa, o controle do estado e das instituições, as restrições às liberdades públicas. Algo que Bolsonaro é claramente a favor. E que Lula gostaria de ter, se tivesse chance.
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