Netaniahu aproveita a derrapada de Lula para tirar atenção dos horrores em Gaza.
Imagem de Brasil Escola - UOL
Quando Lula fala de improviso, há grande risco do Brasil passar vergonha. Sobretudo quando se trata de política externa. Seja porque o Presidente é motivado por seu entendimento ideológico do mundo ( para quem ditaduras de esquerda podem ser toleradas ), seja porque ele é mesmo desastrado com as palavras. Sua última derrapada custou grave crise diplomática com o Estado de Israel. Condenando a violência desproporcional em Gaza ( no que está absolutamente certo ), fez uma alusão infeliz no sentido de que violências como as cometidas em Gaza somente Adolf Hitler teria cometido.
O pronunciamento de Lula é desastroso, sem dúvida. Não há como comparar o holocausto nazista ao que ocorre atualmente na Faixa de Gaza, seja em termos de números, seja em termos de método. Embora os fatos atuais do massacre em Gaza sejam gravíssimos, não chegam sequer perto dos horrores perpetrados pela Alemanha nazista ou outros genocídios pavorosos da história ( Ruanda, Armênia, Síria, Iraque, etc ). E além disso, favoreceu Netaniahu, que viu no triste incidente a possibilidade de tirar o foco dos crimes que vem cometendo.
Sempre que alguém menciona o holocausto num contexto equivocado consegue unir Israel em indignação e protesto. O pressionado Netaniahu, que se equilibra para não ser preso por crimes e corrupção, que enfrenta a dura oposição da esquerda e que governa submetendo-se à extrema direita, ganhou um respiro internamente. E aproveitou para fazer disso um teatro, impondo à diplomacia brasileira uma reação absurdamente desproporcional: tornou Lula pessoa non grata em Israel, humilhou nosso embaixador em esquisito desagravo ocorrido no Museu do Holocausto, soltou uma nota duríssima e inadequada a diplomatas equilibrados. O pronunciamente desastrado de Lula é a onda que une direita/esquerda israelense, onda que Netaniahu pretende surfar o quanto possa.
Para além da infelicidade no pronunciamento de nosso Presidente, está a realidade: se não há um genocídio, caminhamos seguramente para um. E indubitavelmente, há massacres, crimes de guerra e violência desproporcional praticadas pelas forças armadas israelenses. São mais de trinta mil mortos, 200 mil feridos, a grande maioria de mulheres e crianças. A cidade de Gaza foi riscada do mapa; Khan Yunis - a segunda maior cidade da Faixa de Gaza - quase seguiu o mesmo destino. Mais de um milhão e meio de pessoas foram forçadas a se deslocar para o Sul, concentrando-se em Rafah, cidade que agora é o alvo das ações israelenses. Hospitais são bombardeados e as pessoas estão sofrendo de subnutrição. O exército israelense exige que os palestinos - um povo desarmado, sem exército que o defenda, vítima tanto do Hamas quanto de Israel - saia agora de Rafah. Sair para onde? Não há mais para onde ir...
Um dia Netaniahu responderá por tantos crimes. Assim que deixar o poder será preso e responderá, seja perante as autoridades israelenses, seja em cortes internacionais. Internamente responderá por corrupção e pelo 7 de outubro, já que nenhum outro líder foi tão negligente a ponto de permitir a violência sofrida por cidadãos judeus em solo israelense. Externamente, responderá por crimes de guerra, massacres e possivelmente genocídio. Ciente disso, ele busca prorrogar a guerra ao máximo, a guerra cuja continuidade assegura sua manutenção no poder e temporária preservação. Paradoxalmente a guerra é sua táboa de salvação.
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