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O Grito da Polônia no Brasil: Imigrantes do Sul e a Luta Pela Independência Polonesa

Gerson Cesar Souza é um poeta, dramaturgo, romancista e pesquisador da imigração polonesa no Brasil. Seus livros estão disponíveis na Amazon Books e nas demais casas do ramo.

Gerson Cesar Souza, nosso novo colaborador, tem um vasto currículo em Administração de Empresas, História, Filosofia e Sociologia, com passagens pela PUC-RS, UFRJ, Harvard Business School e Ludwig-Maximilians – Universidade de Munique, além de ganhar a vida como funcionário da Petrobrás, mas para nós ele é principalmente um poeta, dramaturgo e romancista e um estudioso da imigração polonesa no Paraná, tendo recebido a Medalha da Ordem do Mérito Cultural, concedido pela República da Polônia.

Seus livros estão disponíveis na Amazon Books.

Nossos leitores o conhecem pelo livro O Imortal Coronel Bodziak, aqui comentado.

Seja bem-vindo, Gerson Cesar Souza, que vem dar brilho ao dialéticos.com.


O Grito da Polônia no Brasil: Imigrantes do Sul e a Luta Pela Independência Polonesa


Gerson Cesar Souza


A grande leva de imigrantes poloneses que chegou ao Brasil após 1890, na chamada "febre brasileira" (gorączka brazylijska), trazia consigo o peso de mais de um século de opressão: a Polônia estava partilhada sob o jugo das nações vizinhas. Muitos foram oficialmente registrados como russos, austríacos ou alemães, mas no coração das colônias, principalmente no Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, a identidade polonesa foi ferozmente preservada.


O sonho de uma Polônia livre, independente e popular passou a ser manifestado abertamente nas primeiras sociedades polonesas, organizadas no final do século XIX. O elo com a pátria era tão forte que o Tesouro Nacional Polonês, criado em 1892 na Suíça para financiar a libertação, já recebia apoio e recursos de entidades no interior do Paraná, como a Sociedade de Tiro Kazimierz Pułaski, em São Mateus, a partir de 1893.


A imprensa brasileira notava a dedicação: “essa gente trabalhadora e honesta não esquece de concorrer para ver transformada em realidade essa velha aspiração, esse seu grande sonho, que é a independência da Polônia”.


O Dilema: A Escolha entre Aliados e Potências Centrais


O início da Primeira Guerra Mundial em 1914 foi visto pela colônia polonesa como uma "oportunidade única" — a ruptura entre as três potências opressoras (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Rússia) que antes estavam unidas contra eles.


No Brasil, no entanto, a escolha gerou uma "guerra particular" entre os imigrantes que durou três anos. De um lado, apoiar os Aliados significava ficar ao lado da Rússia, o país classificado por seus líderes em 1912 como "o maior e mais atroz inimigo dos polacos". De outro, apoiar as Potências Centrais implicava defender a Alemanha, responsável pela desnacionalização de poloneses.


Essa divergência ideológica dividiu a imprensa polonesa no Brasil, culminando em ofensas públicas. O conflito só foi resolvido de forma inesperada em abril de 1917, quando a Alemanha torpedeou o navio brasileiro Paraná. O Brasil rompeu relações diplomáticas, e a colônia polonesa se uniu em definitivo ao lado dos Aliados, colocando neles a esperança da Polônia livre.


Comitês de Socorro


A mobilização da comunidade polonesa foi organizada através de uma série de comitês e sociedades dedicadas a três frentes: arrecadação de fundos para exércitos, divulgação da causa e sensibilização de autoridades brasileiras.

Arrecadação de Fundos: Comitês de Defesa Nacional e Comitês de Socorro à Polônia foram criados no Paraná e no Rio Grande do Sul. Coletas, listas de contribuintes e quermesses eram a norma. Os recursos levantados eram enviados diretamente para a Europa e creditados a Henryk Sienkiewicz, o escritor polonês vencedor do Prêmio Nobel de 1905, que presidia o Comitê Nacional Central na Suíça para as vítimas de guerra.

Apoio Institucional: O Brasil, ao abandonar a neutralidade em abril de 1917, abriu espaço para manifestações públicas. Em Curitiba, a bandeira polaca foi hasteada junto às dos países aliados em um grande comício. Autoridades como o Presidente do Estado do Paraná, Affonso Camargo, e figuras nacionais como Ruy Barbosa e o Ministro das Relações Exteriores, Nilo Peçanha, defenderam a causa polonesa. Em 1918, o hasteamento da bandeira no Comitê Central Polaco no Rio de Janeiro contou com a presença de Nilo Peçanha e diversos diplomatas aliados.


Voluntários do Sul


O ápice do engajamento ocorreu com o recrutamento para o exército polonês, que estava sendo formado na França. Em setembro de 1917, o Tenente Henrik Abczynski chegou ao Brasil, percorrendo as colônias do Sul, muitas vezes acompanhado pelo líder Casimiro Warchalowski, para alistar imigrantes.


O chamado ecoou: "Os polacos, residentes no Paraná, querem ir para a guerra". A partir de janeiro de 1918, os primeiros contingentes de "Voluntários do Sul" começaram a partir, liderados por figuras como o tenente Jorge Warchalowski.


1º Contingente (Janeiro de 1918): 42 soldados partiram de Curitiba rumo ao Rio de Janeiro no vapor Itatinga, embarcando em seguida para o front francês no paquete Malte.


3º Contingente (Março de 1918): 22 soldados do Rio Grande do Sul seguiram no navio Samara, acompanhados por Abczynski, que retornava ao campo de batalha.


Estima-se que entre 300 e 500 voluntários do Brasil partiram para a Europa para lutar pela Polônia.


“Bendita Polônia Querida”


A guerra terminou em 11 de novembro de 1918, e a Polônia conquistou sua independência. Os voluntários brasileiros, que viram alguns de seus compatriotas serem condecorados, decidiram seguir com o exército e entrar na Polônia antes de voltar para casa.


O voluntário Vladislau Gluzinski, do primeiro contingente, descreveu a chegada a Varsóvia:


“Indescritível era o nosso entusiasmo e alegria ao chegarmos à Polônia heroica... Bendita a Polônia querida, que me deu a ventura suprema de lutar pela sua honra e integridade”.


Gerson Cesar Souza é um poeta, dramaturgo, romancista e pesquisador da imigração polonesa no Brasil. Seus livros estão disponíveis na Amazon Books e nas demais casas do ramo.

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