O tempo passou, voou, e elas não ficaram numa boa, mas ainda lembramos delas com carinho.
Houve um tempo em que Curitiba era muito identificada com suas marcas. Um tempo anterior à globalização, tempo em que éramos, citando Fukuda ( que cita Dalton Trevisan ), ainda mais província, cárcere, lar. A realidade dos grandes centros - São Paulo e Rio - só nos chegava pela telinha preto-e-branco ( colorida para poucos ) da televisão. A realidade do estrangeiro era aquela que nos impunha Hollywood.
Nesses tempos dos 700.000 habitantes, massa era Todeschini, salgadinhos era Tip Top e loja que vende de tudo era HM. Alguém lembra da decoração de natal da Hermes Macedo cruzando em arco sobre a Barão do Rio Branco? Ou do icônico herói da publicidade que combatia os vilões do preço alto conhecido como Kid Malu? A publicidade era bem fraquinha, mas até hoje é citada como case de sucesso.
Banco era apenas um: Bamerindus. Embora tenha nascido em Tomazina, o Bamerindus era o mais curitibano dos bancos. Acreditávamos piamente que o Bamerindus atravessaria incólume a marcha dos anos:
O tempo passa
O tempo voa
E a poupança Bamerindus continua numa boa…
Não continuou. Acabou em 1997 deixando nesta província a mensagem inversa: tudo passa, tudo voa… Qualquer um que reflita um pouco sobre o efêmero, sobre nossa precária conjunção de átomos de carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio ( e um tiquinho de cálcio, enxofre, fósforo… ), entende que a lição a ser aprendida é exatamente esta. Tudo passa. Por mais vaidoso que você possa ser de suas conquistas pessoais, em três gerações, se muito, ninguém se lembrará de você e seus grandes feitos. Homero, Gilgamesh, o I Ching, dirá você? Que são os cinco mil anos das pirâmides na escala do tempo da própria terra, se não a queda de uma flor de ipê no setembro curitibano?
Ainda assim, em nossas sensações/sentimentos mais ternos reside a nostalgia. Aquela doce lembrança de algo bom do passado, que nos põe um riso leve e triste nos lábios, mais associada ao anseio pela juventude que qualquer outra coisa. E ali nos vem à memória o Mercadorama Demeterco, as Lojas Prosdócimo, o Matte Leão... Todas marcas vencidas pela crueza da roda, mas incrustadas em qualquer curitibano genuíno.
Claro, ainda temos sobreviventes bem sucedidas, todas na onda das franquias. Assim O Boticário, assim o Madero… Embora o brilho de sucesso e a reconhecida qualidade dos seus produtos, alguma coisa lhes falta. Uma cobertura de pátina, uma ruga discreta no canto dos olhos, qualquer coisa que a lance lá no passado, no tempo em que éramos jovens e sonhadores.
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