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NUDISMO É VERGONHOSO? ONDE SE PRATICA NUDISMO NO BRASIL

No nudismo não há vergonha das partes mal-chamadas pudendas, de ver e ser visto nu, de malícia por estar-se nu, de sobressexualização da nudez ; seu componente precípuo consiste na naturalidade e na normalidade da nudez.



Arthur Virmond de Lacerda Neto discorre sobre o naturismo.



Arthur Virmond de Lacerda Neto, nosso articulista, é um filho da Faculdade de Direito (UFPR), mas seu principal interesse, desde sempre, foi a história do Paraná, tendo escrito inúmeros livros sobre o tema, que aliás, impressionam pela minuciosa pesquisa e pelo estilo impecável. O amor de Arthur Lacerda pela linguagem escorreita e precisa é lendário entre os que o conhecem. Aqui ele se debruça em um dos temas que o interessam, o nudismo, matéria que ele aborda com conhecimento de causa e a seriedade habitual. (Redação)


O QUE CARACTERIZA O NUDISMO

 

                                                                            Arthur Virmond de Lacerda Neto

 

Há, no Brasil, praias de nudismo (Pinho, Galheta, Abricó, Tambaba); malgrado seu clima quente e a extensão de sua costa, são elas raríssimas, bem como rareiam os nudistas entre nós, ao contrário dos europeus, nudistas há cerca de 120 anos, já em praias, já em seus lares.


A Federação Internacional de Naturismo define naturismo como vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção favorecer o respeito por si próprio, pelo outro e o cuidado com o ambiente.


Se exprimirmos o nudismo por fórmula matemática, então temos: nudismo = nudez + certo espírito.


O que individualiza o nudismo e distingue o nudista dos gimnofóbicos (recusadores do nudismo) é que:


a) Eticamente, os nudistas aceitam a nudez em contextos que não apenas de atividade venérea e de banho. Seu desnudamento é livre de vergonha e de malícia, ao passo que os têxteis aceitam-no e praticam-no apenas em contextos íntimos (de atividade venérea e banho), envergonham-se de serem vistos nus, imputam-lhe malícia e ou pecado.

     

b) Praticamente, põem-se em pelo não somente para sexo e para banho[1].


Na fórmula oficial somente faz sentido a cláusula que assinala o naturismo como prática da nudez social; é, todavia, caracterização defeituosa, que o limita à nudez de dois ou mais indivíduos em presença mútua, como se o desnudamento a sós não fosse nudismo e como se dois ou mais indivíduos, nus, em companhia mútua, implicasse forçosamente espírito nudista.


No nudismo não há vergonha das partes mal-chamadas pudendas, de ver e ser visto nu, de malícia por estar-se nu, de sobressexualização da nudez (típicas dos meios vestidistas e pudicos); ele implica nudez, tanto solitária quanto acompanhada, não somente para atividade sexual ou para tomar banho. Seu componente precípuo consiste na naturalidade e na normalidade da nudez (independentemente da vida em harmonia com a natureza e do encorajamento do respeito de homem para consigo, para com outrem e de cuidado com o ambiente).


O nudismo implica, precipuamente, aceitação da naturalidade e da inocência da nudez, bem como na prática da nudez, já a sós, já socialmente, não apenas em contextos íntimos: esses são-lhe os componentes primeiros e indispensáveis. Quaisquer outros que se lhes acrescente são gratuitos e desprovidos de inerência com o nudismo, como é o caso dos da definição oficial.


Nudismo = nudez + espírito de naturalidade e da inocência da nudez.


Nudismo é o uso de estarmos nus em momentos variados, com naturalização da nudez, produto do entendimento de que nenhuma parte do corpo humano, masculino ou feminino, é vergonhosa; de que a nudez natural (não sexual) nada tem que ver com sexualidade, indecoro, desrespeito, libertinagem, malícia nem com pecado e sim com naturalidade, liberdade, conforto, saúde, prazer; de que qualquer pessoa, de qualquer idade, pode estar nua a sós e com outrem (nudez social) sem tabus, sexualização nem conotação negativa, no lar, em família; em campos e praias. Em suma: há espírito nudista que produz a prática nudista, em que se toma a nudez como naturalidade e liberdade, saúde e prazer, divorciada de sexualidade, vergonha e malícia.


Dez anos atrás metade dos rapazes nascidos à volta de 1995, de classes média média e média baixa (não evangélicos), aceitava liminarmente a nudez natural; a outra metade recusava-a liminarmente; hoje, cerca de 90% concordam com ela de plano (dos alheios às seitas evangélicas). Amiúde é gente laica, sem teologia, o que, aliás, é perfeitamente típico.

A maioria reage assim: “Não é problema”, “Não é problema para mim”, “Sem problemas com isso”, “Para mim, tranqüilo”.


Outras reações: “Tranqüilo. Cada um com a sua privacidade e está tudo certo.”; “Deve ser libertador. Se eu me sentir bem [nu], por que não ?”; “Não ligo”; “Concordo, tranqüilo, não me importo”; “Não tenho nada contra nudismo, nada, nada, nada”; “[...] às vezes [morei] com amigos; era bem normal ficarmos pelados pela casa [...] não tínhamos problema com isso”; “Por mim não tem problema; eu não me importo; se você se sentir confortável na sua casa assim, por mim está tudo perfeito”; “[nu] me sinto mais confortável.”


Contudo não há movimento de opinião pública, seja a bem de praias de nudismo, seja pelo abandono do estrófio (peça de vestuário encobridora das mamas), seja do nudismo como ética.


Quanto ao desvelamento das mamas, não é crime expô-las em público; todavia as varoas brasileiras não ousam fazê-lo, inclusivamente as feministas, para quem tal não interessa. Tirante a minoria de mulheres nudistas, as mais submetem-se docilmente ao preconceito contra a exposição das mamas.

Toda praia há de ser de nudismo facultativo.


[1] Praticamente, em bom português, significa de modo prático, de forma prática, de maneira prática. Leram “practically”, em inglês e imitaram-no, com o que formaram o anglicismo praticamente. Em inglês, “practically” significa QUASE; empregar praticamente com acepção de quase é português de muito má qualidade. Da mesma forma, alguns desavisados leem “modesty” e imitam-na, com a pseudo-tradução “modéstia”, mas “modesty” traduz-se como pudor.


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O bem-humorado Arthur Virmond de Lacerda sorri, no Bebedouro, pensando nas praias nudistas.

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