Do meu modesto ponto de vista, é tudo muito simples...
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Liberdade é um dos temas mais caros à filosofia. Liberdade é tema especial para o direito. Há longos tratados acerca do assunto. Há inúmeras tentativas de conceituá-la. De minha parte, consciente de minhas poucas luzes, entendo que o conceito de liberdade é o mais simples possível: liberdade é poder.
Abstraia a ideia da arrogância dos homens ditos poderosos, todos fundados em poder econômico ou político. Embora transversalmente este poder esteja envolvido no conceito de liberdade, referimo-nos, essencialmente, ao poder, assim entendido aquilo que eu posso. Literalmente, sou tanto mais livre quanto mais posso. Sou tanto menos livre quanto menos posso.
O ser humano não é totalmente livre porque sofre limitações, restrições ao seu poder, entendido como aquilo que pode ou não fazer. De início, pensamos nas limitações físicas. Imediatamente nos vem à mente a imagem do prisioneiro, o ser humano com a liberdade mais diminuída. O prisioneiro não é livre porque não pode ir onde bem entender. Está confinado a um presídio, a um pátio onde toma sol, a uma cela. Mesmo nesta triste situação, a liberdade tem gradações. Se este prisioneiro estiver numa solitária, será ainda menos livre.
Nossas limitações físicas, contudo, são muito mais amplas. Não é dado ao ser humano voar. Neste sentido, um pássaro é mais livre que um ser humano. Também não podemos respirar em ambiente líquido, tampouco viver sem oxigênio. São limitações ao que o ser humano pode que o tornam menos livre que alguns animais. Dentro daquilo que é facultado ao ser humano, conforme a situação de cada indivíduo, alguns são mais livres que outros, na exata medida em que podem mais que os outros. Limitações físicas como sequelas de doenças, obesidade, inabilidades, dependências, há inumeráveis restrições ao que podemos ou não fazer que nos tornam menos livres.
As condições sociais também diminuem o que podemos e assim nos tornam menos livres. Pessoas que precisam batalhar pela própria sobrevivência, comprometendo longas horas de sua rotina diária, são menos livres que aquelas não sujeitas a esta condição. Aqui, sem dúvida, o poder econômico pode implicar em maior ou menor liberdade para o indivíduo. Pessoas que vivem em regimes totalitários são, por óbvio, menos livres que as que vivem em regimes democráticos, simplesmente porque o rol das coisas que podem fazer é menor do que o rol das coisas que podem fazer os cidadãos de um estado democrático. A pessoa pode, por exemplo, publicar um texto crítico na internet; pode fazer um discurso em praça pública apontando falhas do governo; pode filiar-se a um partido político de oposição e assim por diante.
As condições sociais limitantes da liberdade são também muito amplas. Nesta breve reflexão, não é possível aprofundar esta via de pensamento. Resta, ainda, referir as limitações de ordem mental, não raro as mais severas restrições ao que podemos ou não fazer. De fato, a mente pode ser nossa maior algema, nosso mais severo cárcere. Complexos, obsessões, medos, ciúmes, desejo, apego, inveja, insegurança, ambição, há um sem número de entraves à nossa liberdade que poderíamos apontar. E aqui o indivíduo financeiramente poderoso - e neste sentido mais livre - pode ser o mais abjeto escravo, sujeito, por exemplo, à cobiça, ao apego, à ambição desmedida.
A questão é, do meu ponto de vista, simples assim: liberdade é poder. Quanto mais posso, mais livre sou. Quanto menos limitado naquilo que posso, sejam as limitações físicas, sociais ou mentais, mais livre sou. Tudo considerado, não há dúvidas de que o único ser total e absolutamente livre é Deus, porque somente Deus é onipotente, somente Deus tudo pode. A espiritualidade pode catapultar o ser humano para um estágio de maior liberdade, pela diminuição das limitações mentais, sociais e mesmo físicas. Desenvolver a espiritualidade é, portanto, um exercício de liberdade.
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