Helena Kolody, Paulo Leminski, Dalton Trevisan...
Desenho de Paixão
Por toda a minha vida tenho convivido com pessoas de fora de Curitiba. Sempre atribuí isto ao fato de ser eu, também, um álien – o instintivo reconhecimento dos rejeitados – mas hoje, usando o mais moderno método científico existente, o achismo, concluo que o estrangeirismo faz parte da cidade. Uma curitibanice, enfim.
Se formos às origens desta curitibanice, vamos encontrar um baiano, Zacarias de Góis e Vasconcelos, talvez a pedra fundamental da existência do Paraná e, portanto, de Curitiba. Hoje, esquecido e ignorado por todos, relegado a nome de praça central e a um antigo Grupo Escolar na rua Ubaldino do Amaral, foi por sua iniciativa que se plantaram as sementes do que é hoje o Paraná e Curitiba (Salve, Wilson Martins). Ele desenhou a imigração, entre outras coisas, a pedra fundamental da Terra de Todas as Gentes, na expressão feliz de Paulo Vítola e Marinho Galera.
A maior poeta da terra, ucraniana, por azares do destino, nasceu em Cruz Machado, foi estudante e depois professora do Instituto de Educação.
Por Helena Kolody tenho uma reverência que adoto para as figuras santas (aliás, Hélio Leites, como lembrou a Amélia Filizola, chamou-a de santinha municipal). Ler sua poesia, para mim, é uma experiência mística. Eu a via, às vezes, chegando para almoçar aos sábados no restaurante Alameda Gril, na época na Alameda Cabral, caminhando lentamente, ajudada por uma amiga, com um semblante sereno e sorridente.
Não quero ser o grande rio caudaloso
Que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d’água
Que canta e murmura na mata silenciosa.
Outra excentricidade curitibana com certeza foi o poeta Paulo Leminski. Na minha versão da curitibanice, só podia ser filho de pai polaco, mãe com origens negra e indígena.
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E ambos, nesta vocação curitibana para universais, entre outras fontes, inspiraram-se na poesia japonesa para seus trabalhos, Kolody sendo uma das pioneiras. A professorinha normalista sabia das coisas; o polaco riponga não deixava por menos. Eram da província, mas não eram jecas.
Na última vez que o vi, ele estava em um bar, com a cineasta Berenice Mendes, ambos sorridentes. Gosto de lembrá-lo assim, em um bar, com uma amiga, bebendo cerveja.
Dalton, o curitibano da gema, continua na Rua Ubaldino, desnudando, para desgosto dos bons (nunca por demais louvados), a província, cárcere, lar.
Não se engane, ele, também, é um estranho numa terra estranha.
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