O que as Zonas Azuis nos dizem sobre o envelhecimento saudável. A série da Netflix é imperdível para velhos e jovens.
Imagem de Portal do Envelhecimento.
Blue zone é uma expressão inventada por um desses experts em envelhecimento, e se refere a regiões do planeta onde há uma grande proporção de pessoas idosas – muitos deles centenários – e que possuem uma vida saudável e ativa. Há um documentário na Netflix tratando do assunto. São regiões espalhadas por todo o mundo: Okinawa, no Japão, Loma Linda, nos Estados Unidos, Icária, na Grécia, Nicoya, na Costa Rica, e Sardenha, na Itália. O Estadão enviou uma jornalista, Lilian Liang (da revista Aptare, dedicada a longevidade), a estas regiões para examinar pessoalmente o que anda acontecendo por lá, e está publicando uma série de reportagens sobre o assunto. Um desses longevos é Dom Ramiro, de Nicoya, que tem 101 anos. Com esta idade, Dom Ramiro cavalga 12 horas por dia, cuida do gado e da família, e tem uma vida social ativa, com visitas a familiares e amigos. Ou seja, esqueça o estereótipo do velhinho que agora está “gozando a vida”, no dolce far niente da aposentadoria, como dizem por aí.
Em todas estas regiões, os entendidos detectam características comuns: alimentação saudável, vida ativa (os velhinhos se dedicam a várias atividades; ninguém fica parado), cultivam relacionamentos familiares e comunitários, e, mantém um propósito na vida. Fácil. E barato. Não precisa frequentar academia (é bom, mas vida ativa é mais do que isso). Ou frequentar caros spas. Eles comem a comida da terra, e esta é saudável. Encontrar amigos na bodega próxima ou no clube (caso de Loma Linda) não custa nada (ao vivo, em cores, nada de WhatsApp ou rede social). E lembrar que a vida tem um propósito existencial mais profundo e pessoal (para a maioria das pessoas identificada com a espiritualidade) faz diferença.
Para os velhinhos cachaceiros (conheço vários): a longevidade saudável não necessariamente dispensa o álcool. Mas este é tomado em reuniões familiares ou com amigos, moderadamente. Esqueça aqueles porres homéricos a que se acostumou na juventude. A idade cobra o seu preço. A gratificação dionisíaca proporcionada pelo excesso alcoólico será substituída por outras gratificações. Sexo, por exemplo. As reportagens que vi não falam disso, mas evidentemente uma vida saudável e ativa como a do velho Dom Ramiro deve incluir sexo, ainda aos cem anos. Será possível? Você que tem mais de sessenta anos e já desistiu da vida, chafurdado no WhatsApp, experimente e me conte.
A maioria das regiões azuis está no campo, ou em pequenos vilarejos. Exceção é Loma Linda, na Califórnia. A turma do contra vai dizer que isso não se aplica, mas não é verdade. Mesmo morando em cidades onde a existência familiar e comunitária quase não existe (ou é superficial), as lições que vem delas são aproveitáveis. Exemplo é o da existência ativa: o ideal de vida para a maioria das pessoas é se aposentar o quanto antes, e levar uma existência ociosa. Ora, isso é uma herança da escravidão, época em que o trabalho era considerado uma maldição. A atividade doméstica, na herança machista brasileira, é considerada uma atividade menor, destinada a mulheres e escravos. A vida ativa implica em varrer esta mentalidade retrógrada. Isso pode ser feito na cidade ou no campo.
A convivência familiar e comunitária implica em abolir a mentalidade do nós contra eles, que se transformou em uma praga mundial. Tome como exemplo a Sardenha, na Itália.
Nós curitibanos, conhecemos bem a maneira de ser italiana. Eles são passionais, apaixonados, velhos ou jovens. Mas tradicionalmente, suas brigas acabam em pizza, como bem sabem os palmeirenses (Palestra Italia, para os íntimos). Eles sabem que há valores maiores a serem preservados, seja a família, seja a amizade, seja o Palmeiras.
Seja um velhinho ativo; seja feliz.
O documentário sobre as Zonas Azuis está na Netlix, em quatro episódios, apresentado por Dan Buettner, estudioso sobre a longevidade. A série de reportagens do Estadão, da jornalista Lilian Liang, está disponível no site, para assinantes. Várias cidades no Brasil tem indicadores invejáveis de longevidade saudável, como Veranópolis, no Rio Grande do Sul.
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