Lições de Direito por Billy Blanco: proibido dar umbigadas. Está no Estatuto. Mais respeito ou não serão respeitados.
Billy Blanco - Imagem de Carlos Romero
Leio nos jornais a barafunda que os eminentes juízes, desembargadores e ministros da Justiça Federal estão passando. A famosa República de Curitiba está passando por maus pedaços. Um novo juiz, que recém-assumiu a 13.ª Vara Federal (aquela que era do atual senador e ex-juiz) teria telefonado, anonimamente, para o filho de um desembargador federal e supostamente o teria ameaçado. O ex-juiz, atual senador, teria levado o caso para o Tribunal Regional, que suspendeu o juiz, e o proibiu de entrar na Vara da qual é titular. O acusado nega. O Conselho Nacional de Justiça ordenou uma correição em todos os órgãos, lembrando a famosa e clássica frase: “Na dúvida, todo mundo na delegacia.”
Como sou proibido pelo Publisher de discutir assuntos de alta indagação (outros mais bem informados e qualificados devem discutir as questões sérias neste blog), vou aproveitar o sábado para ouvir música. Estes temas candentes me fizeram lembrar aqueles anos dourados do Matagal, em que se ouvia boleros mexicanos e música caipira (os pobres) e os ricos ouviam Cole Porter, um pobre coitado que ninguém mais ouve falar ( fino demais para a turma atual. Ele gostava de falar de sexo de maneira elegante; hoje o pessoal só quer saber de Only Fans.) Entre um e outro bolerão lacrimejante, alguns iluminados aproveitavam para se divertir. Billy Blanco, entre eles.
A gafieira era uma instituição nacional. Os ricos frequentavam boates (ou clubes) e os miseráveis se divertiam em gafieiras. E a música popular explorava o tema. A canção Estatuto da Gafieira fez um enorme sucesso:
“Moço, olha o vexame/O ambiente exige respeito/Pelos estatutos nossa gafieira/Dance a noite inteira, mas dance direito”
E também o Pistom de Gafieira:
“Na gafieira/segue o baile calmamente/com muita gente dando volta no salão.
Mas eis porém que de repente/Um pé subiu/E alguém de cara foi ao chão.”
Muitos cantores e cantoras gravaram as canções. Interessante ouvir Elza Soares, que deu à canção sua bossa característica. Hoje, décadas depois, tantas revoluções musicais e comportamentais passadas, compreende-se que ela era uma artista fora do esquadro. Uma revolucionária intuitiva. Laís Mann gravou uma bela homenagem a Billy Blanco, junto com a Orquestra Quintina. Uma foto espetacular, tirada no Largo da Ordem, realçando o charme e a beleza da cantora, prenuncia o que vai se escutar. Obrigado, Laís. Ainda há gente bem humorada nestes tempos desagradáveis.
Imagem promocional.
Mas a mim interessa, além da natureza dançante (anos 50) e do bom humor, suas lições de vida e, para quem servir a carapuça, jurídicas. É, embora o Publisher não goste, gostamos de deitar lições de Direito à patuleia que nos lê ( os sete leitores. A mulher do Publisher não conta.). Lição de Direito clássica:
“Aliás, pelo artigo 120/O distinto que fizer o seguinte/Subir na parede, dançar de pé pro ar/Enterrar-se na bebida sem querer pagar/ Aproveitar, dar umbigada de maneira folgazã/Prejudicando hoje o bom crioulo de amanhã/Será distintamente censurado/Se balançar o corpo vai pra mão do delegado.”
É, o caso foi parar na delegacia, no caso, o Conselho Nacional de Justiça, onde os distintos cavalheiros terão que se explicar. Vexame total.
Mas já na época, Billy Blanco havia observado que nas altas rodas também havia problemas. Seu Estatuto da Boate já advertia:
“Gafieira de gente bem é boate/Onde a noite esconde a bobagem que acontece/Onde o whisky lava qualquer disparate/Amanhã um sal de fruta e a gente esquece/Vamos com calma/Olha o respeito/Cuida do corpo/Que a alma não tem mais jeito”
Mas talvez Billy tenha outra coisa a nos dizer. Em sua canção A Banca do Distinto (gravada também por Lais Mann, entre outras sumidades), adverte:
“A vaidade é assim, põe o tonto no alto retira a escada/Fica esperando sentada/Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão”
Billy Blanco sabia das coisas. Então, pessoal, ficam todos avisados: nada de umbigadas desrespeitosas.
Todas as canções citadas são encontradas grátis no Youtube e nos streamings da vida, para assinantes. Billy Blanco, Dolores Duran, Elza Soares e outros gravaram. A homenagem a Billy Blanco, por Lais Mann e Orquestra Quintina é imperdível. Vamos combinar: dessa gente só rindo mesmo.
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