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JANE AUSTEN FAZ 250 ANOS MAIS ATUAL DO QUE NUNCA

A minissérie da BBC, com Colin Firth (Mr. Darcy) e Jennifer Ehle (Elizabeth Bennet), foi um arrasa-quarteirão. Pudera, Colin Firth sensualizou Mr. Darcy, um feito impossível. Está disponível na Prime Video
A minissérie da BBC, com Colin Firth (Mr. Darcy) e Jennifer Ehle (Elizabeth Bennet), foi um arrasa-quarteirão. Pudera, Colin Firth sensualizou Mr. Darcy, um feito impossível. Está disponível na Prime Video.

Como este redator se dedica preferencialmente a abobrinhas e hortaliças em geral, não vamos discutir as razões pelas quais consideramos Jane Austen uma das maiores escritoras de todos os tempos. Deixemos as coisas sérias para os acadêmicos e especialistas na matéria negra que é a especialidade francesa. Este é um prato sofisticado demais para frequentadores de botequim como eu.


 A biografia de Jane Austen, por Claire Tomalin, retrata a Inglaterra rural do Século XVIII, complementando os livros de Jane Austen.

Após a undécima leitura de Orgulho e Preconceito, na qual, como sempre, descobri pasmo que o romance continua íntegro e cada vez mais divertido, dediquei algumas horas a folhear a biografia de Jane Austen escrita por Claire Tomalin. Tarefa difícil a dela, pois a vida da escritora, como aliás de quase todos os escritores, não daria um livro que preste, muito menos um filme ou uma minissérie. Afinal, o ofício de escritores normalmente é exercido em escrivaninhas. Não há lugar para aventuras nas escrivaninhas, exceto aquelas inventadas pelo escritor. Mas Claire nos dá uma visão abrangente e detalhada da vida rural inglesa no Século XVIII, acrescentando muito ao leitor de Austen. Vale a compra.


As vidas dos escritores poderiam se resumir assim: nasceu, viveu, morreu. Acorrentado a uma mesa de trabalho. The End. Uma história que só não é tediosa por ser breve.


T. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia, foi uma exceção entre os escritores. Sua via foi tão aventureira quanto seus livros.


Há exceções notáveis. Lawrence da Arábia - Thomas Edward Lawrence, um grande escritor – um dos maiores da língua inglesa – teve uma vida fabulosamente rica em acontecimentos interessantes e importantes. Os Sete Pilares da Sabedoria não é apenas um grande livro, escrito com maestria, mas também conta a vida aventureira do autor. É de cair o queixo do caboclinho de Catanduva e de todos que se deliciam com os filmes da Marvel.

 

No caso de Jane Austen, a tarefa do biógrafo é agravada pelo fato que boa parte de sua correspondência foi destruída por seus parentes, preocupados em preservar sua imagem. A principal fonte de pesquisa de sua vida, que seriam suas cartas, se perdeu. Isso aconteceu também com Richard Burton, outro fabuloso aventureiro e grande escritor, cuja puritana esposa, Isabel, preocupada com o que pensariam os pósteros de seu marido (bêbado, frequentador de lupanares e dado a prazeres lúbricos como traduzir o Kama Sutra) queimou uma enorme quantidade de documentos que seriam a alegria dos biógrafos e um deleite para os leitores-voyeurs.


Triste sina a do biógrafo.


Os duzentos e cinquenta anos de Jane Austen valem uma missa (ela nasceu em 16 de dezembro de 1775). A filha solteirona de um clérigo do campo, que morreu com 41 anos, que levou uma vida restrita à família, vizinhos e parentes, pouco viajada, possuía um gênio literário que a permitiu atravessar todos estes anos ainda melhor do que quando lançou seu primeiro livro, assinado anonimamente “By a Lady”.


Emma Thompson fala sobre sua primeira edição de Sense and Sensibility e o registro de autoria: By a Lady.

Há uma idéia difusa - e totalmente equivocada - que Austen é literatura feminina. No filme Mensagem para Você, de Nora Ephron, o personagem de Tom Hanks se entedia lendo Jane Austen, autora que seu par romântico, Meg Ryan, tem como objeto de adoração. Em outro filme, Sintonia de Amor – dela também - as mulheres adoram Love Affair, de Leo McCarey, e os homens (Tom Hanks e outro) gostam de filmes de guerra. Nora Ephron, penso eu, acha que há um abismo de sensibilidades entre homens e mulheres. Mulheres são Vênus, homens são Marte. É isso, amiga. É?


As narrativas são sempre as mesmas. Em Orgulho e Preconceito, a abertura define tudo:


“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa”.


Talvez o melhor dos filmes, com Keira Knightley como Elizabeth Bennet e Matfhew MacFadyen como Mr. Darcy. Na Prime Vídeo.

Literatura para moças casadoiras, para ser lido nos serões familiares, ao redor da lareira, nas noites frias de inverno, enquanto não chega o celular, o streaming, o WhatsApp e todo o aparato que embrutece a humanidade contemporânea. Odiosamente feminina, na aparência. Machos acostumados a cuspir nos tapetes, adeptos da cerveja, churrasco e mulher, não perdem tempo com este tipo de baboseira.


No entanto, duzentos e cinquenta anos se passaram, e a bem-humorada e implacável solteirona continua atual como se fosse uma série da Netflix. Aliás, façam uma pesquisa na Amazon.com e vejam os produtos inspirados por ela. A coleção é imensa, começando por copos de uísque com a frase clássica e canecas de café, seguindo por camisetas, bolsas, velas aromáticas, caixas, e claro, livros, filmes e minisséries.


Uma avalanche de comentários críticos aos livros, resenhas de filmes, corre nos veículos de mídia. O melhor Mr. Darcy? Cartas ao New York Times.


Festival Jane Austen na Inglaterra

Festival Jane Austen? Reserve suas passagens. Os fãs vão se deliciar vestindo roupas e frequentando ambientes do final do século XVIII. Trends na mídia? Tem. A multidão de austenmaníacos usa a internet e colhe os momentos mais improváveis dos filmes e das séries, levando-os ao trending topics.


Aqui no Bananal, podemos tirar uma casquinha. O engenheiro Thomas P. Bigg Wither, que por aqui passou em 1872, trabalhando num projeto de ferrovia, e nos deu um belo livro, Novo Caminho no Brasil Meridional: a Província do Paraná, era neto de Harris Bigg-Wither, que, na juventude (tinha 21 anos) propôs casamento a Jane Austen, então vinte e sete. A única proposta de casamento conhecida. Harris era um homem rico (como Mr. Darcy) e num primeiro momento, Jane aceitou. No dia seguinte, rejeitou a oferta, como Elizabeth Bennet fez com Mr. Darcy. Sobre o tema, Jane, muitos anos depois, escreveu para sua sobrinha, Fanny:  


Nada pode ser comparado à  miséria de casar sem amor.”


Ela era, afinal, Jane Austen. Não se casaria por necessidade ou cobiça.


Podemos fantasiar um pouco. Jane casa com Harris e tem um filho com ele. Visita o Paraná e entra em contato com o que se chamava sociedade curitibana. Que livro delicioso ela escreveria. Orgulho e Preconceito em Curitiba.


Saiam de baixo.


Mas não, isso não seria necessário. Duzentos anos depois, Dalton Trevisan se encarregou de demolir a sociedade curitibana. Mas ele permanecerá pelos próximos duzentos e cinquenta anos, como Jane Austen?


Cartas à redação.


(Hatsuo Fukuda)

Hatsuo Fukuda é um fã confesso de Jane Austen e como todos os fãs, deve ter lido dezenas de vezes Orgulho e Preconceito e os demais livros dela.

Hatsuo Fukuda é um fã confesso de Jane Austen e como todos os fãs, deve ter lido dezenas de vezes Orgulho e Preconceito e os demais livros dela.

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